Espelho espelho meu, quem é mais míope do que eu?

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Há quatro dias ando brigada com o espelho. Tive conjuntivite e o oftalmo suspendeu o uso das lentes de contato, de forma que entre mim e  o mundo há sete graus de miopia expostos, escancarados em forma de fundo de garrafa. Indisfarçáveis.

Como sempre faço, deixo para me maquiar no carro. Entre o ponto morto e a primeira engatada dá até para fazer as unhas nesse trânsito do Rio de Janeiro, acredite. Hoje, porém, algo aconteceu. Quando fui guardar batom na bolsa que estava no banco do carona, vi com essas grossas lentes, um homem no carro ao lado me olhando.  E ele me disse: você está linda.

Meu marido fala isso pra mim todo santo dia, mas eu acho que é por pena, para eu me sentir melhor ou porque ele me conhece e consegue ver o meu interior que, de fato, é pleno de fofura. Enfim, os elogios dele não me servem de nada em se tratando da atual conjuntura conjuntivada. Mas… ouvir de um desconhecido… fala sério… Nelsim que não me leia, mas eu sorri com a boca, com as bochechas e principalmente com esses olhos infeccionados e cheios de defeitos. Empurrei os óculos que vivem escorregando para a ponta do nariz, arrumei rápido os cabelos para o lado com a mão, entortei levemente a cabeça para a esquerda como fazem as meiguinhas, olhei pra baixo timidamente tal como as virgens, depois lembrei que estava cheia de cabelos brancos e coloquei rapidamente a cabeça de novo na posição vertical como fazem os que nada temem. E de novo ouvi: você está linda.

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Juntei as palmas da mão como os que rezam, e disse para aquele que não tem noção do bem que me fez: muuuuito obrigada. Beijei os meus dedos e assoprei-os apontando para ele, como fazem as retardadas que se sentem uma princesa da Disney. Partimos cada um para um lado, retomando a vida e o caminho.

E no meio de um engarrafamento monstruoso, segui eu… Feliz como os idiotas.