Eu e Pipo fomos à farmácia e tudo aconteceu em questão de segundos.
Pedi o remédio para a farmacêutica no balcão. Um pouco atrás dela havia uma outra moça e um rapaz que estavam conversando.
A farmacêutica pediu para eu preencher a receita com meus dados.
Foi quando estava colocando minha identidade concentrada que ouvi sem querer a moça falando para o rapaz:
-Se tá morando com a namorada é como se estivesse casado sim! Não tem diferença!
Juro que não estava prestando atenção. Juro. Além de ser deficiente auditiva estava concentrada para não errar os números, mas a frase invadiu meus tímpanos. Frase forte e verdadeira, vale observar.
-Ouviu né, Pipo? Ouviu bem o que ela disse?, cutuquei a peça.
Pipo imediatamente com a fofura e a meiguice que lhe é peculiar respondeu:
– Eu não sou de ficar pescoçando a conversa dos outros não, tá entendendo? Ouvi nada!
Continuei preenchendo o papel concentrada.
-Posso falar uma coisa para a senhora?, perguntou a farmacêutica e já emendou sem que eu respondesse:
-Ele ouviu sim!, e olhou para mim forte.
-Mas o quêêêê. Eeeeeuuuu? Euuuu ouvi?! Mas de que lado você está?, disse Pipo com a mão no peito como se estivesse no palco interpretando Hamlet.
-Da mulher sempre!, gritou a outra lá de trás.
O rapaz era o caixa. Pegou meu dinheiro com cara de assustado com o que aconteceu ali.
Menos de um minuto, galera. Em menos de um minuto elas deram um jab, um direto e um cruzado. Impressionante, manas.
Eu não as conhecia. Elas não me conheciam. Sequer imaginavam que estou feliz ao lado do ser humano mais fantástico que já conheci. Sei que foram rápidas e atentas.
Sororidade que chama.
A revolução feminista é uma realidade até mesmo dentro das farmácias do Brasil.
Amém.