Aniversários

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Para você que vai fazer aniversário com a sensação de que está envelhecendo ou, dizendo de uma outra forma, de que ao passar pelo dia que você nasceu uma nova era virá plena de rugas, mais cabelos brancos ou menos cabelo, e que o tempo que lhe resta está diminuindo, ofereço a minha opinião sobre o tempo em nós.

Abdicamos de ter oito anos quando fizemos nove? Acho que não. Penso que ninguém deixa de ter idade alguma porque entendo que a idade atual não é nenhuma inauguração ou estréia. Nós não nascemos com todos esses quarenta, cinquenta, sessenta anos que estamos fazendo. Somente o dia do nosso nascimento pode ser considerado um prelúdio. De resto, teremos para sempre quinze, vinte, vinte e cinco, cinco anos. E, perceba, chegaremos sempre inexperientes no assoprar das velas porque não importa a idade que estamos fazendo, há sempre uma situação em que precisamos chamar uma pessoa adulta para nos ajudar ou que sentimos necessidade de voltar para a casa de nossos pais.

Deixamos, por acaso, de ser inseguros diante a necessidade de tomar uma decisão nas bifurcações da estrada?, de sentir a falta da mãe quando estamos gripados?, de ter o coração acelerado quando a pessoa pela qual nos apaixonamos olha profundamente em nossa direção? Paramos de sonhar? Acabaram os nossos pesadelos? A roda-gigante ficou sem graça? O chocolate menos saboroso? Ora ora… No mais, todo o passado segue agindo em nós e sendo modificado pelo presente vivido. O que passou sequer é pretérito pois o que foi decorrido ainda corre. Fatos aparentemente sem explicação passam a fazer sentido diante um novo acontecimento. Ou seja, o passado não fica para trás, assim como nenhum ciclo ao fazermos mais um aniversário. Vira tudo um caldeirão dentro da gente que está sempre sendo agitado e misturado pela frequência dos nossos passos.

E quem nos aponta o dedo na cara e nos diz que não temos mais idade de passar por certos tipos de sofrimento? Para esses, eu pergunto:  Há então a idade de sofrer e a de não sofrer mais por determinadas coisas? As coisas, essas determinadas coisas, só devem acontecer na idade certinha de senti-las? Faz sentido dizer que não devo padecer por isso porque está fora de hora? Não estaríamos mortos se declaramos que não temos mais idade e liberdade de sentir dores insuportáveis  como a de  querer comer um doce, por exemplo?

Não interrompemos uma certa idade quando passamos a ter outra. Temos sete, temos dez, temos vinte, temos quarenta e temos cinquenta, cinquenta e um, cinquenta e dois,… Se o tempo de fato passasse, ele não estaria sempre com a gente. Nada ficou para trás se ainda carregamos conosco. Só o que não temos, creio eu, é o que está por vir.

(E se, por um capricho do destino, o amor acontece… seja lá qual for a  idade, adolescemos e passamos a ter uma eternidade pela frente. Pois aí é bem como disse o poeta,  “não há tempo consumido nem tempo a economizar, o tempo é todo vestido de amor e tempo de amar”.)