O Pão que o Diabo Amassou

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Nara, minha filha adolescente, virou mesmo vegetariana de carne vermelha e como se isso já não bastasse, Nelsin, meu marido, agora entrou numa super vibe orgânica. Tudo natureba. Até sal. Açúcar nem pensar. Nada industrializado. Ou seja, só comida insípida aqui. E eu que não tenho nada a ver com isso, mas também não vou ao supermercado, vou comendo o que eles compram.

Ontem, por exemplo, Nelsin chegou em casa todo sorridente e tirou da sacola, como quem tira um saco de dez quilos de batata ruffles, um pão de abóbora. E anunciou-o em voz alta:

– Pão de abóbora!!!

– Pão? Amém! – Respondi cheia de entusiasmo e fome.

Fui ver animada. Não tinha glúten, farinha e fermento. Aquilo era tudo menos pão, gente. Sacanagem chamar coisa sem glúten de pão. Era abóbora amassada com sei lá o que meu deus, quinoa e linhaça. Deve ser. Tinha gosto de pé de mendigo. Vencia em dois dias e custou, como qualquer produto verde, os olhos da cara.

Tentei comer. Não deu. Botei manteiga. Não deu. Cortei em fatias. Botei no grill. Depois taquei sal grosso por cima (que não é industrializado). Nada. Derreti queijo branco e taquei na massaroca xulezenta. Nada. Joguei alho fritinho. Não deu também. Depois peguei uma tigela de farofa, uma galinha preta, torci o pescoço dela, bebi do sangue da bicha, fiz a dança da chuva, me virei pra meca, peguei um pedaço do vai-sonhando-que-isso-é-pão, espremi ele com um filé de peixe (frito em óleo de semente de girassol) até eu esquecer que aquela abóbora solada existe e comi.

Deu.

E assim tem sido as minhas refeições. Agora, por exemplo, estou olhando para esses nabos, rabanetes, rúcula e esse macarrão de arroz sem glúten e pensando noutra macumba.

Ganhamos em saúde, fato. Mas haja atabaque para bater com vontade e expulsar esse Exu insosso dessa casa viu.

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