Caixa de Bombons

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Ontem a noite, em plena terça-feira depois de minha aulinha bombadésima de dança de salão na Tijuca, fui pegar Nara e Hideo, meus filhos de 17 e 22 aninhos, na Freguesia onde eles estavam ensaiando para a peça que entra em cartaz no próximo final de semana “Cabaré Opus305”. Vale observar que em 2015, depois do término de um casamento de mais de vinte anos com meu primeiro namorado, passei por uma crise de depressão que me imobilizou durante quase seis meses e a dança de salão foi usada como remédio. Super funcionou. Agora tenho um novo grupo de amigos, já consegui ir ao cinema sozinha pela primeira vez na vida e tenho feito o que der na telha. Sair ou ficar em casa são coisas que atualmente faço em paz. Povoei, enfim, o meu deserto.

Pelo fato de eu ter me reerguido e voltado a viver com alegria, novidades andam acontecendo. Pessoas têm se aproximado e eu tenho permitido. Enquanto estava me sentindo extremamente só, evitei ao máximo qualquer tipo de contato, principalmente com homens. Viver a dor da solidão foi necessário e eu sabia disso. Caso contrário, ia cometer a mancada de sair por aí buscando alguém que me complete, a famosa outra metade, e acredito que para viver a dois, antes, temos que ser um inteiro.

Isso posto ainda que de forma extremamente resumida, ontem ganhei uma caixa de bombons e, voltando ao primeiro parágrafo e conectando as histórias, assim que Nara e Hideo entraram no carro, eu mostrei para eles o regalo toda feliz e contente.

– Vejam! Vejam! O crush está se chegando esbanjando fofura!

– Qual deles? – perguntou Nara que é giga antenada com tudo o que acontece comigo. – O que nasceu em 20 de janeiro ou 19 de Fevereiro?

Nara agora anda nessa de astrologia para meu total desgosto. Eu, como amante de física e ciências em geral, chegada a uma lógica e a uma coerência, abomino qualquer religião. Imagina se euzinha aqui mega inteligente vou aceitar a ideia de que meu comportamento pode ser moldado pela posição dos planetas… Aff. Mas história que segue:

– O que nasceu 20 de Janeiro às 10:40h da noite com ascendente em Aquário.- respondi.

– Você sabe que os capricornianos com esse ascendente são meio desapegados, não?

– Nara, perceba a fofurice. Ganhei bombons agora pouco e durante o dia ganhei coraçãozão no uátisápi. E todo mundo sabe que emoticon de coraçãozão é para começar a escolher a decoração da igreja.

– Mãe, precisamos conversar. Chegou a hora de termos um papo reto. Conversa séria. – disse Nara com um tom hiper assustador.

– Pode falar.

– Os homens costumam se aproximar da gente quando querem sexo. Fazem gracejos, dão bombons, flores, mas eles querem sexo, ok? Essa história de príncipe encantado não existe, certo? Isso é conto de fadas, mãe. A realidade é outra!, você está me entendendo?

– Nara, nem todos os homens são assim, minha filha. – expliquei para ela olhando para o céu estrelado pela janela do carro.

– Mãe, caraca!, me ouve. Depois você vai sofrer e vir para mim toda bagação. Ouve a sua filha que tem mais experiência que você. Sua vida, mãe, está apenas começando e eu tenho a obrigação de abrir os seus olhos!

– Mas, Nara, ele tem sido tão atencioso…

– Claro que sim, mas que fique claro o motivo! Daí, se você quiser ir aos finalmentes tudo bem. Mas não vai iludida pelamordedeos!

– Minha mãe não faz sexo, Nara! – gritou, de repente,  Hideo que estava dirigindo.- Minha mãe é uma santa! Parem com essa conversa que eu vou surtar e eu não tenho dinheiro para terapia! Minha mãe não faz essas coisas! E mudem de assunto que eu quero falar algo importante com vocês. Mudem de assunto!!!!

– Pera que ainda não terminei com ela. – interrompeu Nara cheia de atitude – Mãe, e embora eu saiba que você tenha as trompas ligadas, você tem que usar camisinha. Você vai me prometer que vai usar camisinha. Não se iluda com o perfume dele e nem se ele sair do chuveiro para cima de você com cheirinho de sabonete!

– Ai que eu vou surtar com essa conversa! Nara, minha mãe não precisa desses conselhos! Minha mãe não vai passar por isso!!! – urrava Hideo. – Né, mãe?

– Hideo, cala a boca! – salvou-me Nara. – Mãe, ouve: você não se iluda com homem cheiroso, está me entendendo? Você não sabe por onde ele andou!!! Doença sexualmente transmissível não é brincadeira.  Você para com essa mania de ficar sonhando, por favor! DST é uma realidade que temos que encarar nesse mundo que você está entrando!

– Que entrando, Nara! Só ganhei uns bombons e estou feliz. Só isso!

– Ai meodeos, mãe!, não é só isso!!! Onde foi que eu errei com você que você não consegue enxergar as coisas mesmo eu sendo clara???  Promete pelo menos para mim que vai ficar esperta?

– Ok. Prometo. Pode falar agora, Hideo.- cortei para o Hideo já que estava ficando desconcertada com aquela conversa.

– É o seguinte – começou ele animado – pintou uma oportunidade de eu transar na sexta mas eu preciso que você me empreste o carro para isso. – explicou assim o problema com a maior naturalidade.

Mas gente… antes de eu ter filhos, eu li tudo quanto é revista de psicologia para ser uma boa mãe, aprender como dialogar com eles e bababá bububú. Mas nenhuma tinha esses exemplos especificamente ou nada parecido para eu usar como um guia. Estava tontinha da Silva Takimoto.

– Pode ficar com meu carro, meu filho. – falei pensando na logística de todos nós. – Conte comigo. – disse fofa fofa fofa super mãe miga, descolada e moderninha.

Mas pequei como sempre tagarelando muito mais do que devo:

– O rapaizinho dos bombons vai me pegar em casa na sexta para passearmos.

– Ah não, mãe! Ah não! Promete que não vai ceder para eu poder sair sem crise de consciência! Promete, mãezinha. – implorou Hideo com cara de desespero.

– Mãe, se joga! – disse Nara.

Enfim, eu não sei exatamente o que ando fazendo em relação aos meus filhos. Não sei se posso chamar isso que eles andam recebendo de mim de educação. Dá a entender, quando comparo por aí com outros lares, que o bagulho aqui tem outro nome. Mas uma coisa é certa: não há calça legue que seja mais sincera que a nossa amizade e muito menos parque de diversão que se equipare com o que construí com eles aqui.

E quanto a caixa de bombons que recebi…  Que tudo seja tão surpreendente quanto ela que me fez virar os zóio a cada mordida.

*-*

Procrastinação a Dois.

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– Mãe, você vai correr? – perguntou Hideo, meu filho de 22 anos que está querendo emagrecer, no finalzim da tarde de sexta.
– Vou. Vamos?
– Vamos. – e se deitou ao meu lado.
– Ué. Vamos!
– No três a gente levanta. Pode ser?
– Pode.
– Um, dois…
– Pera. Vai até 13 que eu tenho que pensar numa coisa aqui.
– … 10, 11… Mãe, e se a gente for para o Resenha tomar um chopp com meus amigos?
– Pode ser depois da corrida?
– Ok. Pode. No três a gente levanta então.
– tá.

Me levantei e liguei o ar. Deitei de novo.

– Mãe, por que você ligou o ar? Eu já vou começar a contar até três!
– Escureceu. Será que correr no escuro é bom?
– Mãe, tem luz nos postes. No três, mãe.
– Bora então! Começa logo a contar.
– Mãe, será que não vai ficar muito tarde para depois a gente sair pro chopp?
– Correr de barriga cheia faz mal, né?
– Ué. A gente não ia correr antes?
– Então. De barriga vazia deve ser até pior.

Mas gente…

Moral da História: Quando dois não querem um não faz.

Partiu buteco com filho.

Peixes com Ascendente em Escorpião.

en-horz

– Nara, conheci uma pessoa. – disse eu super fofa e mãe miga para minha filha adolescente.
– Que dia ele nasceu? – perguntou ela que agora está com essa mania ridícula de astrologia que eu sempre abominei.
– Para que você quer saber isso?
– Para saber como ele é.
– Eu te falo aqui. Ouve.
– Que dia, mãe! Que dia!!!
– Ai caceta. Não importa! Ouve aqui.
– Mãe, que dia. Dia, mãe!!!!
– 20 de Janeiro.
– Que horas?
– 10:40h da noite. – falei na lata com cara de assustada.
– hmmmm. Deixa eu ver aqui. Pera.

Nara pensa.

Começo a ficar tensa.

– Pode ir. Super vai dar certo.
– Valeu.

Ufa.

Nem quero ir para lugar nenhum não, mas como assim eu sei o dia e a hora que ele nasceu e não sei o nome completo do crush?!? Como assim? Em que momento Nara me estragou por completo??? Onde foi que eu errei com essa pisciana com ascendência em escorpião e o diabo da lua em Sagitário, Vênus em Aquário e Marte e Mercúrio em Áries?

Nós, aquarianos, não acreditamos em signos! Socorro!!!

Amor em 5D

Yukiblog

– Mãe, o que é 3D? – perguntou Yuki, meu caçula de nove anos.

– São dimensões. Veja bem: uma dimensão = 1D = uma reta. Duas dimensões = 2D = um plano. Três dimensões = 3D = o espaço tal como o conhecemos. – respondi.

– Entendi. E quatro?
– Pode ser o tempo.
– E a quinta dimensão?
– Não sei. Não temos como imaginar. É algo que se existir não temos como descrever.
– Entendi.

Quando Yuki estava deitadinho, quase dormindo, enchi, como faço toda noite, a bochecha dele de beijinhos.

– Banoite banoite banoite teamo teamo teamo.
– Mãe. – disse ele de olhos fechados.
– Oi, Kinho.
– A quinta dimensão é você me dando beijo antes d´eu dormir.

*-*

Agora estou aqui. Transbordando de amor no tempo. No espaço. E muito além dele.

Sobre o tema da redação do Enem 2015

Deixarei aqui registrado minhas postagens nas redes sociais para elas não se perderem. Foi um dia histórico e quero guardar toda essa euforia com muito carinho. Portanto, essa publicação de hoje foge muito do tipo de texto que coloco aqui. Não tem nenhum compromisso com a literatura e sim com a emoção do dia.

‪#‎Enem2015‬

Enem 2015. Pela primeira vez selecionando não somente os melhores alunos, mas também as melhores pessoas para ingressar numa Universidade.

Tema da redação hoje no Enem foi: Violência contra a Mulher. Já estou esperando: Mas nem todo homem…

Tema da redação do Enem hoje: Violência contra a Mulher no país. Gostaria de ver os seguidores preconceituosos de Malafaias, Bolsonaros e Felicianos assim como os machistas em geral tendo que desconstruir seus conceitos em menos de uma hora para passar na prova do Enem. Parabéns a todos os envolvidos. Enem arrebentando.

Tema da redação hoje no Enem: Violência contra a Mulher. É um tema tão tema que até eu estou com vontade de fazer textão aqui com isso. Enem mostrando a que veio.

Tema da redação hoje no Enem: Violência contra Mulher. Reclamou do textão das feministas o ano inteiro e agora vai ter que fazer um em menos de uma hora. Hahahahaaaaaaaa.

Tema da redação de hoje no Enem: Violência contra Mulher. Não há machismo, não há violência, não há racismo, não há homofobia, é tudo mimimi. Fale mais sobre isso agora. Hahahahaaaaaaaa. Enem sambando na cara desses preconceituosos. Amei isso.

Tema da redação do Enem: Violência contra Mulher. Temos exatamente agora mais de sete milhões de jovens pensando e dissertando sobre o tema. Obrigada a todos os envolvidos.

Tema da redação do Enem: Violência contra a Mulher. Péssimo dia para ser homem machista misógino e seguidor de Cunha. Obrigada, Enem.

Tema da redação do Enem: Violência contra Mulher. Escreve agora sobre vitimismo, meu bem, que mulher pede para ser estuprada e que feminismo é falta de rola. Vai. Quero ver você escrever isso agora. Ahhhaaaaahaaaaa. Eterna gratidão, Enem.

Tema da redação do Enem: Violência contra Mulher. Tô aqui fazendo meu textão para mandar para o MEC de alguma forma. Eu que não vou ficar fora dessa. Enem fazendo história.

Tema da redação do Enem: Violência contra Mulher. MEC, deixa eu corrigir as redação nunca te pedi nada.

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‪#‎Enem2015‬ ‪#‎MachistasNãoPassarão‬

MEDICINA
MEDICIN
MEDICI
MEDIC
MEDI
MED
ME
M
MC
MC D
MC DO
MC DONALD’S

ODONTOLOGIA
ODONTOLOGI
ODONTOLO
ODONTOL
ODONTO
ODON
ODO
O
O S
O seu
O seu pe
O seu pedi
O seu pedido, por
O seu pedido, por favor?

VETERINÁRIA
VETERINÁR
VETERINÁ
VETERIN
VETERI
VETE
VE
V
Vo
Vou
Vou fa
Vou fazer
Vou fazer Enem
Vou fazer Enem de
Vou fazer Enem de novo
Vou fazer Enem de novo em 2016

ENGENHARIA
ENGENHAR
ENGENHA
ENGEN
ENGE
ENG
EN
E
Eu
Eu po
Eu pos
Eu posso
Eu posso ano
Eu posso anotar
Eu posso anotar o seu
Eu posso anotar o seu pedido?

ARQUITETURA
ARQUITERUR
ARQUITERU
ARQUITER
ARQUITE
ARQUI
ARQU
ARQ
AR
A
A se
A senho
A senhora
A senhora de
A senhora deseja
A senhora deseja mais
A senhora deseja mais alguma
A senhora deseja mais alguma coisa?

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Começou a choradeira. Eles estão saindo da prova. Vejam: “perdi vaga para cotista e agora para feminista! Era só o que faltava nessa merda de país!”. hahahahaaaaaaaa Obrigada, Enem!

‪#‎Enem2015‬

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Agora tem gente reclamando que o tema da redação é “de esquerda”. Como assim, cara pálida? Então para quem é de direita tudo bem mulher apanhar, ser estuprada, ganhar menos e tudo o mais? Como assim??? Para que tá ridículo, ok? Para. Simplesmente para.

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Não tem como apoiar o MEC que coloca um tema desses na prova de ontem e não deixa a gente ler as redações dos machistas se enrolando. Chateada com o MEC viu.

‪#‎Enem2015‬ ‪#‎xatiada‬

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De ontem para hoje eu já perdi as contas de quantas amizades desfiz nessa rede. Nos tempos idos das eleições, ao contrário de muitos, nem me passou pela cabeça excluir ninguém. Acho interessante ter, digamos, o inimigo por perto para saber o que ele fala, o que ele posta, quais são os argumentos dele, o que ele critica, com o que ele se irrita e por aí vai. Lendo, ouvindo, assimilando muitas das críticas de quem pensa diferente de mim, já me vi refletindo sobre minhas filosofias e repensando minhas escolhas. Nada como ficar desconfortável para que o cérebro seja devidamente estimulado.

No entanto, o tema sobre a violência contra a mulher é outra coisa. Não é questão de ficar ou não incomodada com os comentários e sim enojada por completo.

Na semana passada, fiz a maior exposição jamais realizada antes por aqui em que narrei os assédios que já sofri. Recebi no mesmo dia mais de vinte mensagens inbox de mulheres que já passaram ou ainda passam por isso. Elas não fizeram a declaração publicamente por medo e vergonha. Quase toda semana, lemos nos jornais inúmeros casos de mulheres que são espancadas, mortas, humilhadas pelo mundo. Além disso, temos a violência dita “silenciosa”: a violência moral. “Piadas” que denigrem a imagem da mulher e fortalecem a associação da mulher com um objeto sexual. Todos os dias vejo algum “amigo” compartilhando algo nessa esteira.

O tema de ontem no ENEM obrigou quase oito milhões de jovens dissertarem sobre “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” e os que ficaram de fora falarem também a respeito. Ninguém se segurou. Houve um clima de festa. Eu mesma fiquei eufórica. Super emocionada. Como assim o Brasil todo está discutindo o assunto com a seriedade que merece? Como assim os machistas vão ter que justificar porquê são tão imbecis? E como assim isso aconteceu depois de eu ter lido tantos relatos de amigas que foram ou são humilhadas por homens?

Vejam vocês: a minha felicidade foi chamada de “palhaçada”. A minha festa foi chamada pejorativamente de “carnaval”.

É claro que machistas passarão. É claro que tem feministas que não escrevem lé com cré e ficarão. Isso é o de menos. O que importa, historicamente falando, é que se percebeu uma maior conscientização sobre o tema, uma necessidade maior de discussão, e que o problema de feminista não é falta de rola e sim o mau uso dela. E, ontem, mais do que tudo, ficou claro o quão sofridas e unidas somos nós. Sabemos como nenhum homem sabe que é preciso muito esforço para melhorarmos a sociedade e vimos na outra e em muitos outros um apoio. A estranha mania de ter esperança em um mundo mais justo, ontem, não pareceu tão estranha assim.

Mas, como dizem, a felicidade dura pouco e não tardou para as ofensas e “piadas” começarem. Piada ou brincadeira é quando os dois lados se divertem. Se um lado sofre com o que você disse, isso tem outro nome. Falar que: “machista mente para comer mulher o ano inteiro e vai mentir mole no ENEM”, “isso tudo não passa de um carnaval”, “ria bastante hoje que amanhã a louça te espera”, “sua alegria não vai mudar o mundo”, “tá desesperada? Qual foi a última vez que fez sexo?” e coisas afins só contribuem para que o machismo continue se perpetuando e que mais mulheres sejam espancadas, humilhadas, assediadas, estupradas e assassinadas.

Daí, meu irmão, pode até amar a Dilma mais do que eu que não vai fazer parte da minha rede de amigos nem que o vento seja estocado. Não é questão de ideologia e sim de caráter.

As suas piadas, a sua religião, os comentários de seus amigos achando graça, seus ídolos bolsonarianos, junte toda essa titica de galinha, triplique seus argumentos e não valerão ainda a linda imagem das mulheres fora do perigo de uma mão pesada e injusta de um macho de sua laia.

A operação lava chato segue freneticamente sem dó nem piedade. Julguem-me como sempre julgaram e cagarei como nunca jamais caguei.

Triste Realidade

9 anos. Fui fazer exame de vista. O oftalmo apagou a luz e mandou eu ler as letrinhas. A sala ficou muito escura. O médico segurou o meu braço e começou a me sarrar toda. Minha mãe estava na sala mas não viu nada naquela escuridão. Eu apavorada me calei.

‪#‎PrimeiroAssedio‬

11 anos. Em Minas. Fui na beira do rio pegar capim para os porquinhos da índia. Um homem que estava passando abaixou as calças e começou a se esfregar todo em mim. Consegui me desvencilhar dele e corri gritando. Foi preso.

‪#‎SegundoAssedio‬

12 anos. No ônibus. Eu sentada sozinha um homem senta ao meu lado. Pega a minha mão com força e coloca em cima do pênis dele. Ameaça-me com um canivete. E eu sou obrigada a obedecê-lo. Mais gente entrou e ele parou e desceu. Fiquei em estado de choque.

‪#‎TerceiroAssedio‬

Nunca falei disso publicamente e se o faço é para fortalecer a campanha publicitária criada pelo coletivo feminista Think Olga para que mulheres através dessas hashtags no Twitter compartilhem relatos dos primeiros abusos ou assédios que sofreram. Eu fui além já que outras redes sociais permitem mais caracteres. Iria até a quinta. Mas já fiz meu papel.

E você, parça, não me venha falar que mulher feminista é chata e fica de mimimi. Se você não passou por isso, fica calado, por favor. É o mínimo.

Enem 2015

enem

Lembre-se: Não há motivos para ficar nervoso com a prova do ENEM. É apenas a sua carreira, sua vida, o amor de seus pais, e a sua inteligência que está em jogo. Fique de boa e Boa Prova!

1- (Enem-2015) Você está a 3 metros do fluxo e avista uma novinha acelerada a 180 graus da corrente. De acordo com as leis de Newton e a constituição federal, o que ela quer?
(A) pau
(B) Respeito
(C) Atrito
(D) Impeachment

2- (Enem 2015) Sabendo que você passou o ano inteiro fazendo postagens de signos, marque a opção correta:

(A) Gêmeos univitelinos se desenvolvem a partir do mesmo espermatozóide.
(B) Um corpo boiando em Aquário sofre um empuxo maior que seu peso.
(C) Peixes respiram engolindo água e as brânquias ajudam a absorção de gás carbônico.
(D) Libra é medida de massa e não de peso.

3-  (Enem-2015) Devia ter:

(A) amado mais.

(B) chorado mais.

(C) visto o Sol se por.

(D) estudado mais.

4- (Enem-2015) De acordo com a constituição do povo brasileiro, marque a opção correta:

(A) Se Dilma cair quem assume é o Aécio.
(B) Se Temer cair quem assume é o Aécio.
(C) Se o Vasco cair quem assume é o Aécio.
(D) Se o dólar cair quem assume é o Aécio.

O Carteiro e o Poeta – versão Madureira

carteiro

Aqui onde eu moro em Madureira, no subúrbio do Rio, o carteiro é uma mulher. Uma carteira. Morena, lindona e mega simpática. Nelson, meu querido ex-marido, anda recebendo uma multa atrás da outra e sempre tenho que assinar para receber a notificação de infração de forma que eu e a carteira estamos já criando intimidade.

– Miga, entra, toma uma água. O Sol está de matar.- Falei no terceiro dia.

– Não, miga, minha garrafinha tá cheia. Muito obrigada! Miga, que tanto você leva multa?

– Sou eu não, miga. É meu ex.

– Grazadeus, né?, miga, se fosse com você ia ficar triste.

Outro dia:

– Miga, de novo o seu ex andou fazendo besteira por ai!

– Me conta, miga, outra multa dele? Tadinho. Deve estar mal sem mim.

– Faz muito tempo que vocês se separaram?

– Quase um ano. Mas olhe para mim, miga. Ficar longe de mim deve deixar qualquer um doido, concorda? – brinquei.

– Super concordo, miga.- E gargalhou da minha segurança.

– Mas eu e Nelson somos hiper amigos e eu não quero que ele leve multa… – Falei fofa.

– Liga para ele, miga. Fala para ele prestar mais atenção.

– Boa, miga.

Abre parêntese:

Assim que ela se foi, mandei um uátissápi para Nelson:

“Nelsu, terceira multa em menos de duas semanas. O qq tá com teseno?”

Nelson responde com emoticon: ” 😦 ”

“Nelsu, a carteira mandou você lê as placa.”

Nelson responde: “???”

Daí, liguei e expliquei tudo. Dei o recado da super-miga-carteira.

Fecha parêntese.

Hoje, a carteira me chamou no interfone para ir até lá, mais uma vez, assinar papel. Aff. Nelson de novo? Quando cheguei até a mocinha vestida de amarelinho e azul com chapeuzinho na cabeça, ela me falou:

– Miga, primeiro quero te dar um abraço.

E me deu um puxão seguido de um forte abraço.

– Hoje, sinto muito, miga. – disse ela olhando nos meus olhos com cara de enterro. – A multa está no seu nome e não mais no do Nelson.

– Nããããããão, miga. Não!

– Outro abraço, miga, vem.

Agora vejam vocês, recebi uma multa e dois abraços. Perdi 7 pontos na carteira, é verdade, mas tem algo aqui dentro que não me deixa ficar triste. Deve ser o efeito desse famoso gesto. A infração cometida fez-me ficar arrasada por um momento, mas essa atitude espontânea e giga carinhosa dessa funcionária dos Correios fez com que meus lábios ficassem congelados. Com a concavidade para cima. E eu aqui. Assim. Com essa cara de paisagem de primavera…

7 para o Detran. 10 para a amizade.

Filhos que não me obedecem: uma dádiva por mim conquistada.

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A imagem do filho obedecendo os pais sempre foi, para mim, um exemplo a não ser seguido. Não sei se faço certo ou errado, mas muitas pessoas têm me perguntado como consegui essa relação de cumplicidade e amizade com meus três filhos que têm idades completamente diferente (hoje, Yuki está com 9 anos, Nara com 17 e Hideo com 22). Pelo fato da pergunta estar se repetindo, resolvi pensar na educação que dei a eles e concluí que eu jamais me importei ou precisei exigir que eles me respeitassem ou obedecessem.

O verbo obedecer significa “ato pelo qual alguém se conforma com ordens recebidas. Autoridade, mando, domínio. Sinônimo de submissão.” Deus me livre… Se o que se busca é respeito, penso eu que isso só é conseguido se o outro lado for respeitado também. Assim como faço com qualquer pessoa, respeito meus filhos e as opiniões deles em tudo. Como mãe, fico atenta às habilidades a serem exploradas, às vontades a serem aprofundadas, ao talento – seja lá para o que for – que pode aparecer a qualquer momento e precisar de um empurrãozinho para emergir.

Não quero que filho nenhum me obedeça. Não me sinto apta a comandar a minha vida quanto mais a dos meus filhos. Se eles tiverem que me obedecer é porque, de alguma forma, assim penso, eles foram podados ou castrados por mim e devem agir de acordo com os meus interesses. Eu passo ser autoridade se tiver que impor a minha vontade e fujo disso já que abomino qualquer tipo de autoritarismo. Filho meu não “tem que” me respeitar e muito menos me obedecer.

Quero que meus filhos tenham luz própria e não sejam sombras de outras pessoas muito menos de mim. Quero que eles sejam eles mesmos, reconheçam as suas vontades e tenham em mim um apoio para conseguir segui-las. As decisões são deles. “Mãe, posso…?” sempre busquei trocar por “Mãe, quero…”. Eu apenas pondero alguma coisa que acho relevante observar, mas as rédeas estão com eles. Quer matar aula, mata. Quer fumar, fuma. Quer fazer teatro, faça. Quer vender arte na praia, venda.

Como disse, não sei se faço certo ou errado, eu simplesmente não consigo agir diferente por aqui. Sei que operando assim tenho, de fato, construído uma relação que muitos têm elogiado. Vale observar que aqui vira e mexe a casa cai. Discussões homéricas são comuns nesse teto, mas nada que em algumas horas tudo volte ao normal. Não é novidade que existe uma quantidade exorbitante de jovens que se drogam. Pelo que afirmam os especialistas da área, muitos desses têm algum problema de relacionamento com os pais que exigem, de uma forma ou outra, obediência. Daí que esses meninos são praticamente forçados a seguir uma determinada profissão certamente pela questão financeira, proibidos de atender aos seus instintos e compelidos a adiar seus sonhos. Seus planos vão ficar a espera de um momento ideal para colocá-los em prática quando saírem da casa dos pais. A solução para esse inferno: as drogas. Isso posto e observado, penso que mesmo que transformemos nossa casa em um ringue de luta quando brigamos – coloquemos assim –  de igual para igual,  filho meu se um dia se drogar não vai ser por minha causa. Disso eu tenho total certeza. Não estou podando a asa de ninguém, pelo contrário, aqui eu só encorajo o voo. Não quero que eles andem no trilho, quero que eles percebam sempre que podem ir para qualquer lugar – como um trem descarrilado –  com o meu apoio.

Então, eu acho que pelo fato de permitir que eles sigam as suas próprias vontades e de criar um ambiente de condições favoráveis e saudáveis para que isso ocorra, acabo conquistando o tal do respeito sem, contudo, ser autoritária e, muito menos, fazer deles seres obedientes. Penso que o dia que  meus filhos se comportarem bem por medo e não por vontade própria eu terei falhado como mãe.

Pela última vez, não sei se estou certa ou errada. Mas uma coisa é fato: não há parque de diversão que se equipare com o que construí com Yuki, Nara e Hideo.

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Arrumando a bagunça. Bagunçando o que está arrumado.

Hideoelk

Eu e Hideo, meu filho lindo de 22 anos, resolvemos fazer uma arrumação no quarto dele que estava um angu de caroço. Saíram quatro sacos imensos de lixo e dois de roupas para doar. Mas a cada gaveta que a gente abria, eu tipo via umas três a dez camisinhas.

– Caraca, Hideo. Tem camisinha pra cacete aqui! – disse literalmente e conotativamente.
– Sabe o que quer dizer isso né, mãe?
– Que você está se precavendo. – respondi de imediato. – Parabéns!
– Mãe, isso são todas as fodas perdidas. Cada vez que saio com uma menina eu sempre esqueço onde enfiei as outras camisinhas e compro mais. Tuuuudo isso é foda não dada, mãe.

Daí que, antes do Hideo nascer, eu li tudo que é revista de psicologia para ser uma boa mãe, aprender como dialogar com meu filho e bababá bububú. Mas nenhuma tinha esse exemplo especificamente ou nada parecido para eu usar como um guia. O que dizer numa hora dessa, gente?

– Entendi, meu filho. Vamos fazer o seguinte. Vamos juntar todas elas e colocar numa caixinha que fica no banheiro. É bom que vai ter camisinha a dar com o pau.
– Puxa, mãe, obrigado.

Como sou fofa fofa fofa, gente. Mas tenho um defeito: exagero. Resolvi dar uma de mãe descolada:

– Inclusive, meu filho, quando mamãe precisar já sei onde pegar. – disse maternalmente.

– Não fode, mãe! Que nojo!

Enfim, se fosse fácil se chamaria tabuada do um e não convivência.