Prometo não tocar no assunto.

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Fui orientada por várias editoras que entraram em contato comigo a não falar de política nas redes sociais caso queira ser uma escritora vendável. Perguntei: e sobre o que posse escrever? Disserte sobre seu trabalho, Educação, ouvi como resposta. Ou sobre os seus filhos, sugeriram.

Pois muito bem, trabalho no CEFET há dez anos como professora de física e há um ano como coordenadora. Cheguei lá pouco depois de Lula ter sido eleito presidente. No dia de minha posse, o diretor falou que ali eu não iria encontrar professores infelizes. Achei estranho, pois vinha da rede estadual e da particular onde professor que não reclama nunca havia visto.

O tempo passou. De fato, nunca vi ali professor reclamando das condições de trabalho. Vi as salas ganhando projetores multimídia e quase todas serem climatizadas. Tudo o que pedimos para que nosso laboratório de física ficasse mais moderno e atualizado conseguimos. Fiz meu doutorado com redução de carga sem redução de salário. Viajei para congressos e simpósios pelo Brasil inteiro tudo bancada pelo CEFET. Jamais, em tempo algum, lembro-me de querer fazer algo ali dentro para os alunos e para meu crescimento intelectual e ser freada.

Há quatro anos, minha sala viu a diversidade. O sistema de cotas foi implementado no meu CEFET. Se ganharam os cotistas com a oportunidade, ganhamos muito mais os professores por entender que capacidade intelectual nada tem a ver com a nota de uma prova de seleção e mais ainda enriqueceram os outros alunos por testemunhar o esforço de quem vive em outra realidade.

Sempre quis dar a melhor educação para meus filhos. Nara se formou ano passado pelo CEFET e ontem, depois de chegar da rua e ter visto o quão alienante é uma escola particular me disse: o CEFET deveria ser obrigatório para todos. As escolas particulares deveriam ser proibidas. Exageros à parte, ela quis dizer que lucrar com educação (e saúde) deveria ser, no mínimo, digno de vergonha.

Moro em Madureira, Yuki tem amigos na escola em que estuda (todos brancos) e, para equilibrar esse universo, levo meu filho sempre no Parque onde a diversidade impera.

No Parque Madureira, semana passada, Yuki conversava com um menino da idade dele (dez anos) que mora na Serrinha. O coleguinha viu a mãe ser estuprada e estava contando para a gente como foi. Ele estava acompanhado do irmão mais velho que estava “andando de skate não sei onde” enquanto ele brincava no parquinho. Disse o menino que o irmão vai matar quem fez isso com a mãe.

Hideo, meu filho mais velho, se formou agora em música. Está doido procurando emprego – assim como seus amigos que se formaram em engenharia, psicologia e ciências socias. Os editais para cultura estão fechados. Sabe Deus com que idade eles vão se aposentar.

Desde o meio do ano passado, recebo orientações de meus chefes imediatos para ajudar na contenção de despesas. Vi professores querendo ir a congressos e impossibilitados por falta de verba. Vai piorar, avisaram.

Temos toda a liberdade para usar metodologias diferentes para ensinar não só no CEFET como em todo o Brasil como já garante a Constituição. Mas essa nova reforma do Ensino Médio engana e toma para si esse discurso que ‘agora’ as escolas vão poder trabalhar de forma mais livre sendo que, em breve, veremos o aumento da dificuldade dos pobres chegarem às universidades como deixa claro o texto dessa Reforma.

Pronto. Falei do meu trabalho, sobre Educação e sobre meus filhos. Seguirei a orientação e continuarei dissertando sobre esses temas. Trarei números de quantas escolas técnicas foram criadas em dez anos e quantas universidades novinhas em folha visitei. Falarei também sobre a quantidade de amigos que tenho concursados e sobre Lucimar, minha empregada, e suas colegas de trabalho que estão felizes recebendo tudo o que tem direito.

Mas evitarei falar sobre política. Prometo.

Ô Sorte!

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Hoje acordei sem saber se teria tempo para fazer tudo o que estava no script. Levar Yuki à escola, pilates, ir ao CEFET para resolver N pepinos da coordenação (além de professora sou coordenadora de física lá), acabar a revisão de um livro, levar Yuki à bateria, corrigir prova…

Cheguei do pilates correndo. Saí do carro já tirando a roupa para entrar no chuveiro e gritando a Nara para não se atrasar. Ela pegaria uma carona comigo porque tinha também N problemas para resolver no centro da cidade e disse que, depois, dormiria no pai. Lááááá longe. Sempre que ela fala isso eu sinto saudade com ela ainda ao meu lado.

Saímos no tempo certo. Ufa. Nara toda linda de saião estampado e blusinha deixando o umbigo fofo aparecer. E eu toda fresquinha e floridinha com o barrigão coberto, mega estressadinha porque o dia não tem 57 horas.

Até que aconteceu algo magnífico. Uma sorte caiu do céu. Deus existe e me ama a vero. Na verdade, foram dois algos magníficos.

Bem no meio do caminho, pisei na embreagem e ouvi um estalo alto. Depois o pé da embreagem ficou soltinho. Avisei a Nara em plena Rua Goiás.

– Nara sua loka, desce que você vai ter que empurrar o carro. Quebrou a rebimboca da parafuseta.

Lá fora, um Sol para cada um.

Nara saiu prontamente. Empurrou literalmente no salto alto o carro. Chamei o reboque e enquanto ele não chegava, dei água para Nara e levei minha filha linda até o ponto de ônibus. Continuamos a conversar de onde havíamos parado. Liguei para meu amigo Joel me substituir lá no CEFET porque havia acontecido um imprevisto.

Depois, olha que máximo, fui no caminhão do reboque (adoro adoro adoro andar de caminhão) até a oficina levar o takimóvel.

Cheguei lá, em pleno coração do Méier o moço falou um monte de coisas e disse que o carro ficaria pronto amanhã. Foi só a ydfertsm retdir da peça da embreagem.

– Entendi. – disse sem conseguir repetir nada do que ele havia acabado da falar.

Pronto. O que fazer? Estava mega chateada desde que o dia havia começado porque ia ficar sem a Nara, queria cortar o meu cabelo e estava sem tempo. Depois do acontecido, como não tinha mais jeito, fui direto para o Norte Shopping dar um jeito na juba.

Adorei. Relaxei total. Adoro quando mexem na minha cabeça. Adoro adoro adoro.

Chegando em casa, Nara me liga.

– Mãe, tô voltando. Esqueci todos os documentos em casa. Vou almoçar com você e só vou para meu pai amanhã.

Fiz tudo o que estava na agenda da tarde com os cabelos lindos, muita calma e plena de uma paz que irritaria até os monges budistas dos terreiros do Tibete.

Nara-sua-loka se empolgou com a blusinha mostrando o umbigo, pegou a tesoura e rasgou várias outras. Ela agora inventou uma nova moda de blusa mal cortada e saião cheio de frô. Fica lindo que só cêis vendo.

Um troço de doido que distrai a beça ver a Nara cortando tudo torto.

O moço acabou de me ligar e disse o preço da ydfertsm retdir da embreagem. Menos de 25% do valor que imaginava que ia gastar…

Sou ou não sou toda sortuda e abençoada, gente?

No meu tempo…

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– No meu tempo, não tinha violência…

– Tia, 2ª Guerra! Hiroshima! Nagasaki! 70 milhões de mortos! Escravidão! Empregada doméstica sem direito trabalhista nenhum! Brasil no mapa da fome. Mulher obrigada a ser dona de casa! Isso não lhe parece super violento?!

– Unghf. No meu tempo havia respeito…

– Por qual ditador? Por qual senhozinho? Respeito para a senhora é quando o oprimido obedece de cabeça baixa sem questionar nada?

– No meu tempo, a sociedade não era tão dividida entre homens e mulheres, negros e brancos como está hoje.

– Tia, você só percebeu essa divisão agora quando os menos favorecidos estão lutando bravamente com as ferramentas que têm pelos direitos iguais e, por isso, eles estão te incomodando por ameaçar seus privilégios! Reflita!

– No meu tempo, não tinha essa quantidade de viado…

– Tia, por que em todos os lugares que há mais tolerância ao outro têm mais homossexuais, bis e transexuais?

– No meu tempo, casamento durava…

– E a mulher era propriedade do marido! Recebia até o sobrenome dele! Dependia financeiramente dele! Como ela ia se livrar de um casamento caso estivesse infeliz?

– Isso é prova de amor: mudar de sobrenome. O mundo hoje está tão perdido que outro dia vi uma receita de comida com abacate… abacate com sal, agora veja… dá diarréia!

– Tia, o Brasil é o único país no mundo que come abacate com açúcar!

– Será que o restante do mundo não sabe que abacate na comida dá diarréia?

¬¬

Estou me sentindo preparada para dialogar com o Estado Islâmico depois de enfrentar a tia conservadora.

Captcha

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Foi mais ou menos assim. Hoje tive que pagar uma conta de 4 dígitos. Tenso isso. Como não estava nem um pouco a fim de ir ao banco, bora fazer no celular.

Deu xabu.

O sistema ficou puto e dava erro toda hora.

Vim para o computador.

O site do BB falou que eu estava muito desatualizada que fazia tempo que não acessava o site e que eu estava correndo muito o risco de não ser eu e que eu tinha que instalar um programa lá para garantir minha segurança. Beleza.

Baixei.

Depois segui todas as recomendações, concordei com tudo, aceitei tudo e, como parte do processo, desliguei o computador. Contei até dez e religuei.

Entrei de novo no sistema.

Daí ele me disse, vc receberá um código no seu celular. Digite aqui para termos certeza de que você é você.

Ok.

Digitei os onze caracteres que recebi misturando números e letras maiúsculas e minúsculas. Depois ele falou para eu digitar o que lia no captcha lá. Um troço de doido todo embolado. Digitei.

Depois ele me mandou para um caixa eletrônico para pegar um código. Chegando lá me perguntaram: O nome do seu pai é OSAMU, OBAMA, TORANO, CALAMU ou BOLENU? Respondi.

Ok.

Depois eles falaram: Uma mulher vai ligar para o seu fixo e vai falar uma frase. Digite aqui. Ok. Depois falaram para eu ler o que estava escrito no segundo poste da minha rua, fazer dez flexões e, por fim, me perguntaram o que é o que é que mantém sempre o mesmo tamanho, não importa o peso? Respondi: a balança. Acertei.

Ok.

Entrei no sistema.

Amém.

Vi meu saldo.

Não passava de três dígitos.

Ah gente…