Ontem, dia 29 de Agosto de 2016, eu não aguentei. Tentei acompanhar o processo de impeachment da presidenta Dilma, mas estava exausta. Conseguir ver até Janaína Pascoal, a advogada de acusação, e encerrei o meu dia. Janaína era esperada para fazer a pergunta sobre crime de responsabilidade. Daí ela desatou a comparar a economia de Chile e Paraguai. Oi? A pergunta que ela fez não tinha a menor relação com a tese pela qual Dilma está sendo julgada. No mais, de tudo que vi, ficou a certeza de que o Senado tem um nível de pobreza moral que superou o da Câmara.
Que o país está dividido todos sabem. Mas, depois de ontem e mais tudo o que já foi feito nesses poucos meses de governo interino, a divisão se dá porque de um lado há os que sabem que é golpe e estão desesperados com essa ideia e, do outro, os que sabem que é golpe e estão dando de ombros para a democracia.
Outra coisa que eu e mais uma grande parte do Brasil ficamos bem surpresos foi ver a Dilma que a mídia esconde. Até aqueles que sempre a criticaram tiraram o chapéu para a força apresentada. Se a mídia apoiasse Dilma, teríamos uma líder inconteste de nosso povo da qual todos poderíamos nos orgulhar a despeito de seus defeitos que em nada afetam a soberania do país. Dilma cometeu erros políticos, mas não é uma criminosa moral e faz jus ao cargo para o qual foi eleita.
Ela falou por quase 14h em uma defesa memorável que vai entrar para a história. Dilma deu um show de coragem, de dignidade e de respeito à biografia e à democracia. Foi lindo vê-la se dirigindo com a cabeça erguida ao senador Perrela, que teve um helicóptero apreendido com meia tonelada de cocaína e que a acusa de crime. Foi um deleite ver a cara do Aécio que de tão delatado foi considerado como aquele que seria o “primeiro a ser comido” pela Lava Jato, como disse Sérgio Machado. O circo é tão estapafúrdio que havia gente como o senador Romero Jucá que foi pego em gravação conspirando para acabar com o governo Dilma e a Lava Jato. Enfim, esses são apenas exemplos dentre quase todos que estavam ali acusando Dilma de crime de responsabilidade.
O Brasil é o único país onde uma presidente que não cometeu crime algum é condenada por políticos comprovadamente criminosos. E isso ficou ainda mais claro ontem já que a acareação estava sendo feita. Não foi à toa que Dilma aceitou a condição de ser interrogada por 14 horas. Ela sabia que precisava sobretudo defender o processo democrático e sua biografia. Que o golpe seja dado, mas que a relutância seja documentada e saia nos livros de história.
Aliás, ontem praticamente liberei todos de qualquer responsabilidade aqui em casa. Pedi, inclusive, para que meus três filhos matassem aula e orientei para que todos acompanhassem o quanto conseguissem o processo. Ouçam, meus filhos, observem o olhar de Dilma e sua postura. Inspirem-se nessa mulher. Não sejam covardes, enfrentem seus adversários, sejam dignos.
Assistimos todos uma aula magna de dignidade e de resistência.
Fui dormir deixando Dilma ainda acordada e se defendendo. Estava ainda sem acreditar. Eu após uma palestra e depois de responder a uma meia dúzia de perguntas fico esgotada emocionalmente. Dilma estava há quase 12h quando fui me deitar dando uma aula de democracia e um banho político nos senadores. Que mulher é essa? Será sempre, para mim, uma grande inspiração.
Enfim, que o golpe seja consumado e a diminuição da desigualdade social do Brasil volte a ser um sonho. Que Dilma Roussef não seja mais a nossa presidenta e que a direita governe do jeito que lhe convier. Dormi e acordei, ainda assim, leve por aqui. De forma paradoxal, sinto-me uma vitoriosa. De tudo o que vi ontem, depois de observar atentamente o discurso de quem acusava a minha presidenta e saber da índole de muitos que estão apoiando o golpe e as razões pelas quais isso ocorre terem ficadas mais do que esclarecidas, eu me envergonharia, isso sim, de estar ao lado de quem atacou esse Coração Valente.
Nas minhas leituras , passeando pelos blogs de esquerda deixo o seu por ultimo pq me enche de animo depois de tantas noticias ruins sobre o nosso pais. Fiquei surpresa em ser a primeira a comentar nesse texto. Meu sentimento foi o mesmo que o seu no julgamento fajuto da Dilma. Fiquei arrepiada com suas palavras. Obrigada.
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Quando percebi a palhaçada do Congresso: “voto pela minha família…”, Fiquei tão nauseada que não tive mais coragem de assistir! Me recusei a ver a Dilma ser massacrada por aquela corja e fui dormir (ou tentar…). Hoje, lendo o seu texto tive uma outra visão, realmente a Dilma é um coração valente, a coragem e a força dessa mulher chegam a ser incompreensíveis para os simples mortais! Parabéns! Que bom que existem pessoas como você, que nos dá força para enfrentarmos esses tempos bizarros que estamos vivendo!
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