Respeitem a moça

Estou vivendo uma experiência bem diferente comigo mesma. Desde que me entendo como mulher nessa sociedade doente, pinto as unhas, a cara toda (primer, corretivo, base, lápis, sombra, pó, rímel…) e, há uns dez anos, taco tinta preta nos cabelos com cada vez mais frequência.
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Abri mão de tudo de uma só vez.
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No início, foi por preguiça. Estava cansada. Depois, fui fazendo uma conta que nunca havia feito e comecei a ficar assustada em quanto gastei para “parecer linda”. Percebi que ganhei umas quatro horas por semana e investi em leitura. Depois fiquei surpresa com a quantidade de cabelos brancos que tinha do lado direito. Assim, por fim, quero saber como sou. Agora é por curiosidade.
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Não é nada fácil esse processo já que dou aula, palestras, viajo a beça, tiram foto comigo e há espelhos por onde passo. É difícil se olhar sem os disfarces.
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Por outro lado, é libertador andar por aí com a cara de quem saiu da cama e bastar estar limpa e vestidinha para os eventos. Estou me sentindo linda? Não. Muito pelo contrário. Mas está tudo bem.
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Tenho me alimentado com muito cuidado. Estou estudando como sempre e como nunca, aprendendo libras, pedalado toda semana e há pessoas me perguntando porque não estou me cuidando.
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Maldito sistema em que as mulheres têm que parecer sempre mais novas do que são e mostrar que estão se esforçando para isso.
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Não sei quanto tempo vou aguentar porque não temos o direito de ser feliz como falam por aí.
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Mas saibam que se me virem na rua com a cara desta foto, estou transformando o futuro do pretérito em futuro do presente. E isso é um tipo de revolução.
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Chutar o balde nem sempre é sinal de fraqueza. Por vezes, pode ser um ato de coragem.

Respeitem a moça.