Pra frente, Brasil? – Sobre a Copa 2022.

Estou aqui pensando na Copa que se aproxima. Antigamente, tudo era menos confuso. Enfeitar as ruas, usar a camisa da seleção e pendurar o bandeirão do Brasil na janela mostravam apenas uma conexão com uma festa mundial. 

O serviço público tinha problemas, nas escolas faltava estrutura, havia desemprego, havia corrupção em muitos lugares deste país mas… era a Copa. O Brasil ia jogar, era dia de festa e ninguém queria discutir quem era o culpado das mazelas desta bagaça.

Agora não. Agora tá tenso. 

Hoje a gente está discutindo –  a menos de um mês do início da Copa – sobre os sentimentos que devemos ter quando o Brasil estiver em campo.

Tanto para quem é da direita quanto da esquerda há uma dúvida sobre como proceder. 

Deste lado (que considero o correto da história), não sei como vamos nos comportar quando sair, por exemplo, um gol do Neymar. Nem sei se vamos conseguir torcer para que ele faça um gol. A felicidade de quem está ao lado dos que praticam violência política nos coloca num estado confuso ainda que essa pessoa faça um gol para o Brasil.

Vestir verde e amarelo é outra questão que tem sido discutida. Há quem diga que será o momento perfeito para resgatar a nossa bandeira. Um querido amigo que ama futebol comprou animado uma camisa verde e amarela no dia seguinte que Lula foi eleito. Gritou alegre: “essa bandeira é noossaaa!”. Falei com ele ontem perguntando sobre a sensação de vestir novamente a camisa com as cores da bandeira. A empolgação não mais se fez presente. Ele me disse que está com medo de ser confundido com quem canta hino para pneu, se pendura na frente de um caminhão ou um nazista. Minha tia que comprou também a camisa na empolgação disse que ficou a cara da Cássia Kis. “Criei ranço da blusa”, disse me oferecendo.

Do lado de lá, também não está fácil. 

Se o Brasil ganhar, vai ser um clima de festa que vai estragar, segundo disseram, o foco da “luta contra o comunismo”. Se por um acaso Neymar se machucar e o Brasil ganhar mesmo assim, Alexandre de Moraes será xingado como tem ocorrido até quando chove. Se o Brasil perder, vai ser derrota sobre derrota e não vão poder chamar as forças armadas para verificar se o jogo valeu. 

Fico pensando em todo mundo de qualquer espectro político se vestindo verde e amarelo e saindo pelas ruas exalando felicidade em dia de jogo. Como iam conseguir identificar quem é o cidadão de bem e quem é o cidadão de boa? Da minha parte, acho que podemos andar sim com o verde amarelo. Mas sugiro que seja em grupos e marchando para gerar memes. 

Enfim, bons tempos aqueles que a gente soprava uma vuvuzela verde e amarela e cantava emocionado o hino com a camisa da seleção antes que vários homens começassem a correr atrás de uma bola. Era um tipo de delírio que o esporte,  assim como o samba, nos permite: algo que nos anestesia pela alegria e não pela estupidez.

Falta menos de um mês para a Copa e ainda há gente que não aceitou o resultado das urnas. O comportamento de quem veste verde oliva também não tem ajudado.

Fica aí minha dúvida. Como todos juntos vamos pra frente, Brasil?

2 comentários em “Pra frente, Brasil? – Sobre a Copa 2022.

  1. A história responderá enquanto isso não ocorrer, temos na memória os 2 a 1 em pleno Maracanã, o silêncio de milhões, a derrota para o Uruguai, e ainda 1958, a primeira vez, campeão mundial com Didi, Nilton Santos, Garrincha – alegria do povo, e o camisa 10. E vamos historicizar a questão, em 1970 o tricampeão mundial e Pelé, tostão e companhia, tinha uma ditadura civil e militar – Médici aumentava a repressão e o futebol ocultava, “prá frente Brasil, salve a seleção”, e depois do 7×1 não tem paixão nacional, a não ser que o juiz apite e entre em campo cadê a fome, passa para o desemprego, de trivela pacificar o país, lança a industrializar, mata no peito a elevar o bem estar social, cabeceia para resgatar a confiança de quem vive do trabalho, reverter o meio ambiente e goool na criação do ministério dos povos originais!

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