Dizem que me exponho demais nesse meu mundo virtual. Fato. Mas entendam-me. Meus textos são perguntas feitas para o espelho e eu não consigo silenciá-las tornando-as como o produto daquele que diz ter feito uma música repleta de pausas. Na minha partitura quando elas existem duram somente o tempo de uma semifusa.
Algumas vezes é assustador sair de mim mesma, mas não consigo mais viver no subsolo. Acreditem. Não é raro entristecer-me quando grafo e por isso mesmo forço-me sempre um rabisco. Conseguiremos nós tirar de algum outro lugar que não seja da dor algum aprendizado? Desconheço e não me importo, pois sei que viver tem que ser perturbador. Há quem se distraia e viva feliz para todo e o sempre sem conhecer o verdadeiro deleite de ser feliz num dia e no outro achar que enlouqueceu. Que se há de fazer com a verdade de que o melhor do verão é saber que não estamos no inverno?
Disserto sobre meu mundo porque sou inteiramente estranha a mim mesma e pressionando meus dedos em cima desse teclado surpreendo-me ao ver-me logo ali, andando na rua ou passando por aquela ponte. Torno, assim, nítidas as cores que mal via e, por deus, o daltonismo deve ser uma dádiva assim como a ignorância porque os textos não podem ser enfeitados e muito menos artisticamente perfeitos. Eles tem que ser eu. Sem batom e sem pudor. Não procurem, portanto, por brilhos nas frases porque sou feita de matéria opaca e sujeita a moléstias. Não esperem tirar ouro dos troncos secos das árvores. Sabemos o que acontece com os que comentem semelhante tolice.
Confesso. Sou incapaz de aceitar essa liberdade das palavras sem pensar no que muitos vão achar e nesse processo eis que o paradoxo se apresenta: buscando-me encontro outras e alguns dos que me leem nem sequer encontram uma de mins. Enquanto conecto-me com outras possibilidades de existir saio por completo do campo visual dessa tela. Serão totalmente em vão essas tentativas de dar nome real a cada coisa transformando fatos em tatuagens que sangram ao nascerem, mas que tem como destino um e pelo menos um olhar de aprovação?
Embora para mim Deus não exista e a recíproca seja verdadeira, sei que aqueles que rezam alcançam, sobretudo, a si mesmos. Coloco, assim, sempre que piso nesse espaço as palmas de minhas mãos juntas como os que oram. Escrever foi a forma que descobri de encontrar-me e, às vezes, sinto falta de mim mesma.
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Incrivel, como sempre. Viajo lendo seu blog.bjs do seu aluno/favinicius
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Que bom que vc leu, Deise! Adoro compartilhar minha vida com vc. :-)Beijos
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Vinícius,Nada como um carinho sincero e sem pretensão.:-)Que bom que viajamos juntos.Beijos e os vemos na quinta se São Pedro permitir.
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Adoro esse tipo de leitura. A gente se liberta e muitas vezes temos exemplos de nossas próprias vidas, sem compartilha-las. Parabéns! continue liberando sua imaginação, libertando seus desejos. Eu adoro escrever tbm, mas escrevo somente p mim, não tenho essa coragem toda. bjus
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Denise,Vc é a segunda pessoa que conheço que escreve somente para si e não sente necessidade de ser lida. A primeira foi Salinger, autor do livro O Apanhador no Campo de Centeio.Ele odiava compartilhar e não via sentido nisso…vai entender.Liberte-se! É super divertido.Adorei sua visita!Beijos
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"em mimeu vejo o outroe outroe outroenfim dezenastrens passandovagões cheios de gentecentenaso outroque há em mimé vocêvocêe vocêassim comoeu estou em vocêeu estou neleem nóse só quandoestamos em nósestamos em pazmesmo que estejamos a sós"O processo do conhecimento acaba por desembocar em um texto, ou um poema. Coloquei um que prima pela economia e beleza. O seu texto é tão sincero quanto ela, um ou outro trecho demonstra um cuidado maior, mas no geral, você não fica agarrada no portão, com medo de se soltar, e nem deixa de por a mão, pelo cuidado de se sujar com a tinta fresca. Vá em frente. Encontre-se onde outros se perderam. Beijos.
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Estou tentando, Djabal, estou tentando… mas parece que o mais interessante é a busca mesmo.:-PBeijos
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Elika, como vc descreve essa miscelania do EU/NÓS de forma tão poética!? Parabéns, foi muito melhor que Fernado Pessoa, quando ele diz "tentei retirar a máscara e ela não saiu, já não sabia mais quem eu era…."Helena de Toledo
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Quem me dera, prima…quem me dera escrever como ele. De qualquer forma, vibrei, pulei e gritei de felicidades com a comparação.Beijos
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Élika, minha prima,Você é a prova de que a maior riqueza que o estudo nos proporciona é a liberdade de ser e de pensar. Quem não sabe disso é infeliz. Esta visão perturbadora de nós mesmos nos conforta, afinal a vida não pode ser tão pequena. ISSO É LIBERDADE.Parabéns.Marcos
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Primo,Que bom que somos livres e tão próximos! Um deleite compartilhar as minhas inquietações com vcs.Beijos
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O Salinger lá de cima(não estou falando do Céu, mas da sua réplica) dizia (pela boca do Holden Caulfield) que um bom texto deve causar no LEITOR uma vontade de conhecer-conversar-abraçar o AUTOR.Sim, o que você escreve provoca esse desejo em quem LÊ! Mas arrisco dizer que faz um pouco mais ainda. É como um passe de mágica: eles (seus textos) começam mostrando um caldeirão cheio de todas as fraquezas-vulnerabilidades-bobagens que você experimentou ou inventou (sei lá), e então sua mão mergulha nessa confusão e pesca a beleza que estava lá e a gente não via. Assim, sem explicar nada (ainda bem!). Letras e Alquimia…Obrigado, de novo.Andre Nakamura
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Obrigada VOCÊ, pelo carinho, André.Nem mereço tanto.Beijo
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Professora!caramba li esse texto nem imaginava que era seu blog!muito legal!recentemente escrevi um texto parecido!é bom ser pego por essas surpresas!muito bom o texto!beeijos
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Renan,Como não imaginava que era MEU blog???Já não havia te convidado para vir aqui???Anyway… obrigada pelo comentário, volte sempre e fique à vontade para ler os meus outros textos ex-critos.Bjs
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