Hoje peguei um engarrafamento danado para levar Yuki à escola. Cheguei atrasada no pilates e comecei a trabalhar na tese mais tarde do que havia planejado. A manhã que já seria curta estava ficando minúscula. Tenso. Mega tenso.
Com cinco livros abertos e o cursor do word piscando demorei um pouco para me lembrar onde havia parado, o que pretendia escrever, o que havia pensado, o que já havia escrito… Na hora que o pensamento engata, toca o telefone. Booooom diaaaa. Era telemarketing. Só elas para dar esse bom dia arrastado, resultado do saco cheio de tanto descaso e de tão pouca cumplicidade de quem lhes atende. Gostaria de falar com a dona Elíka.
Pior do que me chamar de Érica é chamar de Elíka. Fala sério…
– Ela não está.
– A senhora é responsável pela casa?
– O que é ser responsável?
– A senhora não sabe? Quem é a senhora?
– Nádia.
– Você mora na casa?
– Qual casa?
– A casa em que a senhora está.
– Onde eu estou?
– A senhora é a dona da casa?
– Não. Sou a faxineira.
– Cadê a responsável?
– O que é responsável?
– Quem manda na casa?
– A patroa. Manda na casa e em todo mundo. Manda no marido que só a senhora vendo. Manda bem. E se ela tivesse atendido mandaria a senhora praquele lu…
– Quando ela volta?
– Da onde?
– Da onde ela foi
– Onde ela foi?
– …
O problema delas é que elas tem o texto decorado e se você começa a sair do roteiro, das respostas programadas elas se perdem. Maneraço. Do lado de lá o silêncio.
– Posso continuar a estudar, senhora?
– Sim. Bom dia.
– Bom dia
Bom, não me senti muito mal porque acho que a tirei do tédio alucinante do minuto a minuto repetitivo. Ou não. Mas quero acreditar nisso. Quanto a mim… perdi-me na tese pra variar, mas escrevi uma croniqueta. =]
Élika, adorei….comigo já aconteceu algo parecido, disse coisas que poderiam tirá-las do discurso programado e ela se atrapalhou toda. na época me fez pensar em que engrenagem aquela moça havia entrada e depois se ela iria conseguir sair? Como deveria ser seu cotidiano? Juro, do ponto
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continuando, pois travou…do ponto de vista profissional, me deu um nó, imagina a saúde mental de um operador de telemarketing?
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Pois é. Eu fiz meio que sem pensar, mas depois achei que foi divertido pra mim e pra ela… 🙂
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Como as pessoas tem a tendência de não compreender que meu nome é Josaine, eu respondo: é Maria. A conversa flui. Próximas respostas: sou a faxineira. A dona da casa não está. Então ouço: bom dia! ou boa tarde! … Fim da ligação.
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