Somos todos iguais.

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Eu já havia feito algumas postagens nas redes sociais sobre a Paralimpíada. Por um lado, mostrei-me feliz em participar também dessa festa, por outro, questionei o porquê de ter duas festas no lugar de uma só. Na ocasião, várias pessoas me deram explicações dessa segregação, mas nada que tivesse me convencido a ponto de eu deixar de ficar incomodada e me conformar com a “tradição”. Eu não sabia, de fato, fundamentar o motivo pelo qual me sentia tão mal. Apenas sofria.

Até que veio a campanha da Vogue #somostodosparalímpicos.

Para quem não sabe, a campanha traz a foto de Cleo Pires e Paulo Vilhena, atores lindos e globais, uma sem o braço direito e o outro sem parte da perna direita. Um trabalho feito por alguém que não manja nada sobre representividade e empatia, mas muito bem de photoshop ou algo que o valha. O objetivo seria dar mais visibilidade aos atletas que competirão na Paralimpíada Rio-2016.

Aquilo me gerou um asco de cara. Rapidamente fiz o paralelo com mulheres e negros e imaginei uma campanha #somostodosmulheres, por exemplo, com homens vestidos com roupas femininas para mostrar o quanto somos iguais. Fiquei nauseada só em imaginar. Já tivemos uma campanha assim com negros mostrando brancos com rosto pintado de tinta preta e o resultado foi o que muitos viram. A revolta total dos que sempre foram considerados marginais à sociedade não se sentindo nada representados por quem tentou incluir já, de cara, literalmente, excluindo. Ouçam o que os deficientes estão falando sobre essa campanha e verão que o meu paralelo tem razão de ser.

Ter um evento separado não mostra somente que não somos todos iguais. Mostra mais: aponta que queremos que assim continue. O fato de falar que isso é tradição é uma prova de que não estou delirando. Oras, a escravidão era uma tradição. Mulheres não estudando era uma tradição. Homofobia é uma tradição. Continuaremos calados em nome de um passado  exclusor?

Sei que em algumas modalidades, seria injusto mulheres competirem com homens, dado as diferenças biológicas, por exemplo, no boxe. Mas em outras como no tênis, não veria problema algum fazer a inclusão. No caso dos paralímpicos, consigo imaginar um cadeirante competindo em tiro com arco sem problema algum com uma pessoa em pé. É óbvio que em alguns esportes como os de quadra seria complicado competir cadeirante com os que andam bem com as duas pernas sem próteses. No entanto, por que não criar uma modalidade específica (como já ouvi por aí) em que os atletas sem deficiência, por exemplo, tivessem que competir usando uma cadeira de rodas? É fato  que pessoas com e sem deficiência podem perfeitamente concorrer em pé de igualdade em vários esportes.

Basta querer.

Basta querer incluir e ter uma sociedade mais igual, de fato.

Mas parecem que não querem. Segregar é o que há em nossa sociedade. Criar uma competição para mostrar que pessoas com deficiência têm deficiência e são importantes por serem deficientes e não seres humanos, atletas em primeira instância, é muito bizarro e passa longe da tal da inclusão. A campanha da Vogue escancarou isso. O que importa, para muitos, é o que não se tem no corpo e não o que seja esse corpo. Para isso ficar bem claro, tiramos a cabeça do atleta e colocamos um ator global e mandamos ver na publicidade para mostrar a verdaderia importância de uma Paralimpíada, a dizer, o preconceito velado. Porque se fôssemos todos paralímpicos mesmo, se a mensagem fosse essa a ser passada,  teriam colocado, no mínimo, os próprios paralímpicos para estrelar na campanha.

Eu poderia sentar-me no sofá e ficar com os olhos marejados e super emocionada com as histórias de superação que iremos todos assistir no Jornal Nacional e no Fantástico. Eu poderia só ir prestigiar esses atletas nos jogos e nas competições. Mas não. A campanha da Vogue não me deixou ficar calada. Farei disso mais uma bandeira para carregar: Somos Todos Iguais.

E tenho dito.

 

 

2 comentários em “Somos todos iguais.

  1. Pois é, infelizmente os publicitários dificilmente conseguem alcançar a alma humana ou tocar a sensibilidade em questões mais profundas. Isso é sintomático de uma classe que vive o dia-a-dia de vender o produto, a marca, ou o comportamento, não importando a qualidade dos mesmos. Ou seja, acabam invariavelmente trabalhando com a mentira, já que o objetivo é vender. E esta campanha foi feita por uma agência que faz parte do “primeiro time”, liderada por um famoso campeão aí de prêmios na área… bem, de nada adianta essa banca toda na hora de falar da alma e de comportamento, diferença, igualdade, superação. fico me perguntando se essa campanha foi mais um contrato milionário firmado entre amigos dos amigos do poder público. Mais uma usurpação de dinheiro público. E vamo que vamo. Vamos assistir as competições, prestigiar o evento que é mais interessante.

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