Yuki , meu caçula de dez anos, anteontem estava me rondando pela casa:
– Mãe, pinta as minhas unhas da minha mão direita de vermelho?
– Vamos lá. – disse prontamente.
Peguei meu esmalte e fiz o serviço pedido. Mas queria pintar as unhas da outra mão também por costume meu.
– Não, mãe. Só quero uma mão mesmo.
– Está se sentindo bem assim?
– Ótimo, mãe. Obrigado.
– Vai para a escola assim amanhã?
– Vou.
– Então se prepara porque o mundo é um moinho. Seus amigos e até professores podem questionar essas unhas, te chamar de viado, bichinha, essas coisas que não deveriam ser xingamento mas as pessoas insistem em tentar ofender com elas.
– Tô ligado. Pode deixar.
Ontem. Assim que peguei Yuki na escola, perguntei:
– E então. Como foi hoje você e suas unhas?
– Mãe, foi muuuuuito pior do que você falou e eu imaginei. – disse ele com o semblante assustado – As pessoas estavam querendo mesmo que eu me envergonhasse das unhas. Viado foi pouco. Os garotos me chamaram de tudo o que você possa imaginar e tentaram me ofender de todas as formas.
– Você falou o quê?
– Eu não disse nada. Não estou nem aí. Isso aqui não tem nada a ver com a minha sexualidade. Teve muita gente querendo saber se eu era gay e eu nem sabia o que responder porque não sei mesmo o que vou ser. Mas o que me deixou assustado foi a curiosidade das pessoas e a importância que elas dão para isso. Você é minha mãe! Não me perguntou uma única vez por que eu queria pintar minhas unhas de vermelho! Por que outras querem saber se sou gay ou não?!
– Mas você sabia que chamaria a atenção. Se não quisesse, não pintaria as unhas. Por isso te avisei.
– Mãe, é claro que queria. Acho super estiloso isso. Vi em um YouTuber que sou fã. O (esqueci o nome do cara) faz vídeos irados! E ele pinta uma mão só de vermelho. Foi uma homenagem a ele.
– E ele é gay?
– Até você, mãe? O que isso importa! Sei lá. Sei que é maneiro e quis fazer igual. Tô me sentindo mega estiloso como ele.
– Entendi. Perguntei só para entender por que você o admira. Explicou para seus amigos?
– Eu não! Eles viram que não me importei e
passaram a encher o saco de outro.
Meodeos. Criei um monstro.
Seu filho é muito porreta. Serve de exemplo para muitos marmanjos. Conheço muitos “homens” metidos a machões, cheio de preconceitos que no fundo sofrem.
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Corajosos vocês dois! Que bom que o final da história foi feliz pra ele,! É bem mais fácil teorizar do que colocar na prática os valores que a gente ensina aos filhos de igualdade, liberdade etc. Bjos
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Adorei mais uma aventura do Yuki. Este moleque é fera! Lembrei-me dos meus quinze anos quando era menor estagiário do Banco do Brasil, em Jataí, sudoeste de Goiás. A cidade devia ter no máximo 40 mil habitantes. O ano era 1980. Estávamos no horário do lanche da tarde quando eu falei com toda convicção que só não usava brinco porque vivia numa cidade muito provinciana. Foi um choque na galera. Ouvi piadinhas por vários dias. Em 1983 me mudei pra Goiânia, entrei no curso de História em 86 e fui o primeiro da UFG a furar a orelha e colocar um brinco. Certamente fui o primeiro da minha cidade a circular de brinco. O fiz porque achava bonito. Enfrentei todo tipo de sacanagem e não dei bola. Enfrentei o preconceito e ainda tive que ouvir alguns me perguntarem se eu era gay porque o brinco na orelha direita era código dos homossexuais. Pode? Em 90 fui morar em Londres. Lá vivi em Camden Tawn, bairro do movimento punk. Imagine, convivendo com aquela galera com piercing pelo corpo todo, claro que coloquei também um brinco na orelha esquerda. Quando retornei ao Brasil em 92 ainda causava estranheza. Contei está pequena história porque tinha a idade do Yuki eu já queria usar brinco. Adorei tê-lo feito quando ninguém jamais imaginária que um dia isto seria “normal”, assim como logo será comum os homens pintaram as unhas. O Yuki vai rir e curtir muito ter sido vanguarda nesta história. Ah, tenho um aluno no IFG de Jataí no 2° de Informática, Renato, que pinta as unhas das duas mãos. Achei lindo!!! Beijo
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Mas que coisa maravilhosa isso! Fico muito feliz que ele tenha levado numa boa as reações tão desagradáveis e siga firme com o que ele acha que o faz feliz. 🙂
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Olá Sra. Takimoto, boa tarde. Lhe enviei dia 03/07 um email (para elikatakimoto@gmail.com), e me sentiria honrado se a senhora me respondesse. Obrigado.
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Não japa, você não criou um monstro você criou (está criando) um cidadão consciente.
Sinceramente é até difícil acreditar nessa reação e o nível de consciência desse garoto. Continue fazendo o que você faz e deixa esse menino mudar o mundo ao redor dele. Feliz de quem habitar esse mundo.
Parabéns
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Já assistiu ao filme Capitão Fantástico?
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Meu pequeno ama esmaltes desde os dois anos!! Gruda em mim quando a manicure chega! separa por gama de cores, mistura de novo, empilha os vidrinhos…
– vou botar o preto do Batman!!Azul do super homem!!
Pequenininho saia com um dedo de cada cor e explicava de quem era cada cor…Na creche…os adultos estranhavam mas achavam graça. As crianças nem aí.
Agora, com quatro anos, na escola grande…já era.
– mãe , hoje tem escola?
-tem filho, por que?
-Então não posso pintar a unha…
Aí a irmã mais velha veio me contar que os colegas da condução começaram a chama-lo de “Unha pintada” e a dizer que isso era coisa de menina…
– Filho, se vc quiser pintar, pinta! Se quiser tirar depois, tira…
Ódio!!Esmalte, guache, massinha, canetinha…o moleque gosta das cores!!Tem quatro anos e se diverte pintando as unhas! Eu me esforço pra que ele saiba que não tem essa de coisa de menina e coisa de menino.
O mundo é um míínho…chato!
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super, parabéns mamãe!
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Mae e filho são dois exemplos. Arrasaram.
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Tá dando muito o que falar esse menino.continue assim yuki,acho vc demais pra sua idade.
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Queria ter tido essa atitude quando sofria bulling na época da escola. Parabéns! Para teu filho.
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