Ontem senti algo horrível em relação a Pipo, quem namoro há pouco meses e infinitas diástoles. Não me lembro bem a ocasião que apareceu essa desgraça. Certamente emergiu da necessidade de ser abraçada nesses últimos dias somado a algo que li em alguma rede social já que é a forma mais comum que o vejo interagir socialmente – dada a distância de mais de mil quilômetros entre nós.
Quando vi estava morta de ciúmes depois que me deparei com um comentário feito por uma admiradora ou amiga, sei lá, e que sequer havia tido uma resposta dele.
Estranhei a sensação. Estava burra. Havia sentido isso quando adolescente e no início do meu casamento lá pelos idos de mil novecentos e tals. Depois, parece que meu corpo entendeu muita coisa devido às próprias mudanças pelas quais passei.
Nada mais sem sentido do que jurar amor eterno. Não temos como dar conta das mutações e das metamorfoses que são inerentes a quem vive. É por demais insensato ordenar uma constância que é impossível encontrar em nós. Prometer a imutabilidade dos sentimentos é pedir atestado de ignorância sobre a vida.
Todas as vezes que disse eu te amo para Pipo nunca quis encarcerá-lo. Que ele segure a minha mão, mas que ela não seja jamais uma jaula e sim um leito, um travesseiro no qual ele possa encostar sua cabeça, falar sobre o que quiser e dormir se assim preferir.
Porém, ontem, se eu tivesse um poder, ordenaria ao vento que não encostasse no meu e somente meu amor. Esqueci-me de como é bom conviver admitindo o risco da perda porque assim encaramos de frente a real fragilidade e a intrínseca precariedade de qualquer amor. Tive o ímpeto de ligar para ele exigindo a garantia da indissolubilidade de nossa relação, dizer que me recuso viver com a dúvida.
Alô. Oi. Então. Quero proteção, segurança, aliança de ouro e que na sua pele esteja escrito o meu nome em português. Quero a verdade absoluta, a transparência total e a paz da ilusão do cumprimento da promessa. Pensei em dizer.
Sofria o diabo e sabe deus o quanto sofria por querer falar o que sentia com a plena ciência do quão estava surtada.
Todo o meu amor estava sendo transformado nesse inferno de ciúme. Não queria mais saber de somente me doar, como outrora, e sim desejava com força ser amada por alguém que me pertença. Se pudesse, marcava território. Sujava, literalmente, tudo à volta dele. Queria-o como meu escravo, meu esposo, exclusivo. Vislumbrei o cárcere privado.
Coisa horrível sentir isso.
Para iniciar o ritual do exorcismo, criei, em pensamento, uma situação. Se eu pudesse, se fosse, de fato, possível eu ter como saber de tudo o que passa na cabeça dele, queria eu esse conhecimento?
Vai. Reflita, Elika.
Entre a curiosidade da sapiência e a prudência do ignorar fiquei, ontem, finalmente, com a segunda pois tive novamente – com a graça de deus nosso senhor – a clareza de que é muito autodestrutivo procurar aquilo que não quero encontrar.
Hoje, já estou repensando.
Amar, afinal, significa abrir mão das certezas.
Mas amar Pipo… não tenho ideia do que seja.
Chorando litros aqui enquanto leio esse desabafo tão sufocado. Que loucura o amor…eu te entendo muito bem Elika. Minha vontade é de te abraçar bem forte e dizer: fica calma, ele é todo seu. Vc precisa acreditar nisso… No mais, chego a conclusão que os medos sao os mesmos… Para tds.
Beijo!!!
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E nem precisa traduzir… Sinta!! Apenas isso. E de vez em quando um “ciuminho” até que é um bom tempero, né?
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Elika, isso é amor. O descontrole, a insanidade controlada de se sentir vulnerável. Agora sim te vejo humana. Amando com todos os medos que vem junto a esse sentimento. Quando você escreveu que amava Pipo de uma forma livre, sem sentimentos de posse e tal, eu chorei e pensei: Tupã, só eu que não consigo aliar o sentimento à razão. Só eu que me perco nesse turbilhão de sentimento e me vejo com quarenta anos apaixonada e frágil como uma adolescente? Em que ponto da minha vida ficou esse lado controlado e seguro no amor? Eu me senti uma deficiente. Como se eu fosse uma adulta amputada do bom senso de como amar corretamente depois dos quarenta, com quatro filhos, divorciada e um namoro que terminou e exatamente por eu sentir demais e demonstrar isso.
Agora, lendo seu texto, um alivio percorreu meu ser. Eu estava sentindo exatamente o que qualquer mulher apaixonada sente. E se isso afastou meu ex namorado, por quem ainda nutro uma paixão enorme, é porque ele não está preparado pra ser amado na intensidade dos grandes amores. Eu vou ficar bem. Assim que conseguir matar esse sentimento dentro de mim e seguir limpa para um novo amor.. Abraço!
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