Eu e Yuki, meu caçula de 13 anos, estamos aprendendo libras juntos. A vontade de conversar na língua de sinais é muita mas o nosso vocabulário é muito limitado.
Hoje fui deixá-lo na casa do pai.
Andando na rua, ele me cutucou, apontou uma loja e fez os sinais:
Ter tudo. Precisar não.
Achei muito bonitinho a ousadia de se comunicar sabendo meia dúzia de palavras.
Daí eu respondi:
Mãe filho eu você andar. Carro não. Andar.
Ele morreu de rir e:
Carro sim. Eu preguiça.
Gargalhei porque fiquei emocionada vendo Yuki conseguindo se expressar na língua de sinais e me enchendo o saco em libras.
Abre parêntese.
Vale observar: em libras, a gramática é bem diferente do português. Além disso, não há tempos verbais. Há sinais que indicam se a ação se dá no passado ou no futuro.
Fecha parêntese.
Respondi com cara de mãe:
Você doente tv. Andar bom saúde.
Ele:
Saúde. Eu ter. Você ter também. Eu querer videogame agora.
Dá-lhe risada…
Logo depois, vi a vitrine de uma livraria e falei:
Comprar comprar comprar.
Fiz os sinais bem intensificados porque aprendi a ser superlativa em libras também. Ele caiu na gargalhada e falou:
Você casa perto pai casa perto. Eu andar. Mãe. Pai. Eu filho andar.
Eu disse:
Você filho preguiça. Livro bom quero quero quero.
Ele:
Eu andar casa pai filho mãe andar família juntos feliz.
Rimos alto e as pessoas em volta nos olhavam atentas. Certamente julgando que estávamos falando algo muito engraçado.
Havia apenas dois seres humanos lidando com muitas limitações e se deleitando em tentar superá-las.
Assim, caminhando devagar, deixei Yuki na casa do pai.
Contei isso aqui porque considerei o que aconteceu hoje o primeiro diálogo que tive com alguém em libras.
E esse tipo de felicidade ah eu acho que vale registrar.
Obrigada por dividi-la comigo.
Eu e Yuki, meu caçula de 13 anos, estamos aprendendo libras juntos. A vontade de conversar na língua de sinais é muita mas o nosso vocabulário é muito limitado. O bom é que as nossas vontades também são parcas.
Hoje fui deixá-lo na casa do pai.
Andando na rua, ele me cutucou, apontou uma loja e fez os sinais:
Ter tudo. Precisar não.
Achei muito bonitinho a ousadia de se comunicar sabendo meia dúzia de palavras.
Daí eu respondi:
Mãe filho eu você andar. Carro não. Andar.
Ele morreu de rir e:
Carro sim. Eu preguiça.
Gargalhei porque fiquei emocionada vendo Yuki conseguindo se expressar na língua de sinais e me enchendo o saco em libras.
Abre parêntese.
Vale observar: em libras, a gramática é bem diferente do português. Além disso, não há tempos verbais. Há sinais que indicam se a ação se dá no passado ou no futuro.
Fecha parêntese.
Respondi com cara de mãe:
Você doente tv. Andar bom saúde.
Ele:
Saúde. Eu ter. Você ter também. Eu querer videogame agora.
Dá-lhe risada…
Logo depois, vi a vitrine de uma livraria e falei:
Comprar comprar comprar.
Fiz os sinais bem intensificados porque aprendi a ser superlativa em libras também.
Ele caiu na gargalhada e falou:
Você casa perto pai casa perto. Eu andar. Mãe. Pai. Eu filho andar.
Eu disse:
Você filho preguiça. Livro bom quero quero quero.
Ele:
Eu andar casa pai filho mãe andar família juntos feliz.
Rimos alto e as pessoas em volta nos olhavam atentas. Certamente julgando que estávamos falando algo muito engraçado.
Havia apenas dois seres humanos lidando com muitas limitações e se deleitando em tentar superá-las.
Assim, caminhando devagar como devem fazer os que aprendem, deixei Yuki na casa do pai.
Contei isso aqui porque considerei o que aconteceu hoje o primeiro diálogo que tive com alguém em libras.
E esse tipo de felicidade ah eu acho que vale registrar.
Obrigada por me permitir dividi-la com você.