Coitado do Vitor…

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Nara, minha filha adolescente, ontem veio me falar que vai passar o fim de semana fora acampando com os amigos em um sítio em Xerém.

– Quem vai? – perguntei porque sou mãe e tenho que saber das budega toda.
– Marina, Pedro, Mateus, Vitor, e eu. – respondeu ela prontamente.

Pensei um pouco e falei:

– A conta não está fechando…
– Mãe, que conta?
– Três meninos e duas meninas. Alguém vai sobrar…
– Mãe, não tem conta. Vou com meus amigos. – Disse ela seriamente me olhando como se eu fosse um sei lá. Um ET.

Fiquei chocada com a ingenuidade de Nara que vai fazer 18 anos em março! Não é possível… muito lerdinha…

– Isso não existe, minha filha. – tentei explicar mantendo a calma. – Quando a gente sai para acampar com os amigos na adolescência , como diria de uma forma que você me entenda…, quando a gente acampa na adolescência com os amigos… a gente… Tipo… Coitado do Vítor. Vai sobrar…
– Mãe, eu vou ficar com a Marina.

Que bom que Nara é normal. Que susto viu…

Arrumando a casa

Tudo em seu Devido Lugar

Hoje resolvi arrumar a casa. Coisa que nunca faço porque sempre tem algo melhor a se fazer, tipo dessarrumá-la mais ainda. Comecei pelo quarto dos meninos.  Aqui em casa, Yuki de 9 anos divide o quarto com Hideo de 22.  As baquetas de bateria do Yuki estavam em cima da guitarra do Hideo que estava na cama do Yuki repletas também de gibi da Mônica, livros do Ziraldo e CDs de bandas de rock que não consigo guardar o nome. Não sei de quem é o quê. Como dormiram hoje com tanta coisa em cima da cama? Ou depois que acordaram jogaram tudo em cima dela? Não entendo. Pela mesa, a dúvida persiste. Encontro partituras e desenhos feitos à mão do Angry Birds que não consigo identificar qual dos dois os fez. Os chinelos tanto do Super Homem quanto do Incrível Hulk virados de cabeça para baixo. Esses garotos querem me matar, pensei.

Desisto.

Vou para o quarto da Nara, minha filha linda que adolesce. Flores murchas em garrafinhas de água vazias nas janelas. Sei que não posso mexer. Ela gosta dessas coisas que mesmo depois de mortas têm uma forma própria e carregam história. Esmaltes em cima das letras de música do CD de Elis. Não entendo como ela lia enquanto mudava a cor de suas unhas. Rabiscos de química misturados com croqui de alguma coisa podendo ser qualquer coisa. Há vários gibis da Turma da Mônica Jovem na estante do quarto dela misturados aos livros lidos como os de Mishima e Rubem Fonseca. Não sei se estão em ordem cronológica de leitura. Maquiagem no meio das teclas do piano. Estaria ela solfejando um batom? Ou queria ela achar o tom das sombras?

Desisto.

Vou para meu escritório. É tempo de colocar ordem nessa budega. O livro de física segue mantido aberto por um menorzinho há meses: o Livro das Perguntas de Pablo Neruda. Poética a imagem. Ao invés de separá-los, peguei a máquina (Cadê ela? Ah ali!  Ao lado das folhas de papel ofício) e fotografei. Onde estava com a cabeça em deixar na mesma mesa Em busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, 1984 de George Orwell e Vozes Anoitecidas de Mia Couto? O que Ítalo Calvino faz embaixo dos rascunhos? Caramba… que livro lindo esse do Calvino. Dei uma folheada e li quase metade dele. Fechei, levantei as folhas de rascunho (onde tenho algumas ideias anotadas de futuras crônicas) e coloquei Calvino na mesa. Cobri-o com meus repentes de novo. O bom de se esquecer das coisas é que posso fazer surpresas para mim no futuro. Não vejo a hora de encontrar Calvino de novo no susto. Por que Esconderijos do Tempo de Mário Quintana está junto de meus diários de classe? Que livro é esse dele que não me lembro? Nossa. Que lindo… li todo de novo. Levantei Felicidade Clandestina de Clarice Lispector na quina da mesa e vi três multas. Coloquei Lispector rápido de novo onde estava para acabar com aquela visão do inferno que me deu até taquicardia. Cartão de crédito bloqueado para desbloquear, caixa de chocolate em forma de livro que ganhei da Alice e dentro dela… nada. Comi tudo. Coloquei o cartão bloqueado dentro de onde estavam deliciosos bombons e deixei tudo como estava. Gosto de lembrar da Alice.

Desisto.

Fui para meu quarto. Lá, na minha cama, nos reunimos todos para conversar. Livro de fábulas, blusa usada com cecê  da Nara que chega se despindo e deitando ao meu lado, meia chulezenta do Hideo embaixo do meu lençol, pijaminha de hot whels do Yuki e minha camisolinha da Pepa foram todos para seu destino certo: espremidos ali no canto pórque daqui a pouco vamos usar de novo. As roupas sujas foram para o cesto onde encontrei um cinto que Hideo há tempos procurava. No banheiro, na pia, vejo meu caderno de anotações. Não entendo como foi parar ali, mas abro para conferir. Notas de reuniões do grupo de pesquisa em Filosofia com aulas de Física Quântica. No cantinho está escrito: paixão melhor nutella, se não nutella como sabella?

Desisto.

Parei de arrumar a casa e vim aqui escrever essa crônica.

Caixa de Bombons

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Ontem a noite, em plena terça-feira depois de minha aulinha bombadésima de dança de salão na Tijuca, fui pegar Nara e Hideo, meus filhos de 17 e 22 aninhos, na Freguesia onde eles estavam ensaiando para a peça que entra em cartaz no próximo final de semana “Cabaré Opus305”. Vale observar que em 2015, depois do término de um casamento de mais de vinte anos com meu primeiro namorado, passei por uma crise de depressão que me imobilizou durante quase seis meses e a dança de salão foi usada como remédio. Super funcionou. Agora tenho um novo grupo de amigos, já consegui ir ao cinema sozinha pela primeira vez na vida e tenho feito o que der na telha. Sair ou ficar em casa são coisas que atualmente faço em paz. Povoei, enfim, o meu deserto.

Pelo fato de eu ter me reerguido e voltado a viver com alegria, novidades andam acontecendo. Pessoas têm se aproximado e eu tenho permitido. Enquanto estava me sentindo extremamente só, evitei ao máximo qualquer tipo de contato, principalmente com homens. Viver a dor da solidão foi necessário e eu sabia disso. Caso contrário, ia cometer a mancada de sair por aí buscando alguém que me complete, a famosa outra metade, e acredito que para viver a dois, antes, temos que ser um inteiro.

Isso posto ainda que de forma extremamente resumida, ontem ganhei uma caixa de bombons e, voltando ao primeiro parágrafo e conectando as histórias, assim que Nara e Hideo entraram no carro, eu mostrei para eles o regalo toda feliz e contente.

– Vejam! Vejam! O crush está se chegando esbanjando fofura!

– Qual deles? – perguntou Nara que é giga antenada com tudo o que acontece comigo. – O que nasceu em 20 de janeiro ou 19 de Fevereiro?

Nara agora anda nessa de astrologia para meu total desgosto. Eu, como amante de física e ciências em geral, chegada a uma lógica e a uma coerência, abomino qualquer religião. Imagina se euzinha aqui mega inteligente vou aceitar a ideia de que meu comportamento pode ser moldado pela posição dos planetas… Aff. Mas história que segue:

– O que nasceu 20 de Janeiro às 10:40h da noite com ascendente em Aquário.- respondi.

– Você sabe que os capricornianos com esse ascendente são meio desapegados, não?

– Nara, perceba a fofurice. Ganhei bombons agora pouco e durante o dia ganhei coraçãozão no uátisápi. E todo mundo sabe que emoticon de coraçãozão é para começar a escolher a decoração da igreja.

– Mãe, precisamos conversar. Chegou a hora de termos um papo reto. Conversa séria. – disse Nara com um tom hiper assustador.

– Pode falar.

– Os homens costumam se aproximar da gente quando querem sexo. Fazem gracejos, dão bombons, flores, mas eles querem sexo, ok? Essa história de príncipe encantado não existe, certo? Isso é conto de fadas, mãe. A realidade é outra!, você está me entendendo?

– Nara, nem todos os homens são assim, minha filha. – expliquei para ela olhando para o céu estrelado pela janela do carro.

– Mãe, caraca!, me ouve. Depois você vai sofrer e vir para mim toda bagação. Ouve a sua filha que tem mais experiência que você. Sua vida, mãe, está apenas começando e eu tenho a obrigação de abrir os seus olhos!

– Mas, Nara, ele tem sido tão atencioso…

– Claro que sim, mas que fique claro o motivo! Daí, se você quiser ir aos finalmentes tudo bem. Mas não vai iludida pelamordedeos!

– Minha mãe não faz sexo, Nara! – gritou, de repente,  Hideo que estava dirigindo.- Minha mãe é uma santa! Parem com essa conversa que eu vou surtar e eu não tenho dinheiro para terapia! Minha mãe não faz essas coisas! E mudem de assunto que eu quero falar algo importante com vocês. Mudem de assunto!!!!

– Pera que ainda não terminei com ela. – interrompeu Nara cheia de atitude – Mãe, e embora eu saiba que você tenha as trompas ligadas, você tem que usar camisinha. Você vai me prometer que vai usar camisinha. Não se iluda com o perfume dele e nem se ele sair do chuveiro para cima de você com cheirinho de sabonete!

– Ai que eu vou surtar com essa conversa! Nara, minha mãe não precisa desses conselhos! Minha mãe não vai passar por isso!!! – urrava Hideo. – Né, mãe?

– Hideo, cala a boca! – salvou-me Nara. – Mãe, ouve: você não se iluda com homem cheiroso, está me entendendo? Você não sabe por onde ele andou!!! Doença sexualmente transmissível não é brincadeira.  Você para com essa mania de ficar sonhando, por favor! DST é uma realidade que temos que encarar nesse mundo que você está entrando!

– Que entrando, Nara! Só ganhei uns bombons e estou feliz. Só isso!

– Ai meodeos, mãe!, não é só isso!!! Onde foi que eu errei com você que você não consegue enxergar as coisas mesmo eu sendo clara???  Promete pelo menos para mim que vai ficar esperta?

– Ok. Prometo. Pode falar agora, Hideo.- cortei para o Hideo já que estava ficando desconcertada com aquela conversa.

– É o seguinte – começou ele animado – pintou uma oportunidade de eu transar na sexta mas eu preciso que você me empreste o carro para isso. – explicou assim o problema com a maior naturalidade.

Mas gente… antes de eu ter filhos, eu li tudo quanto é revista de psicologia para ser uma boa mãe, aprender como dialogar com eles e bababá bububú. Mas nenhuma tinha esses exemplos especificamente ou nada parecido para eu usar como um guia. Estava tontinha da Silva Takimoto.

– Pode ficar com meu carro, meu filho. – falei pensando na logística de todos nós. – Conte comigo. – disse fofa fofa fofa super mãe miga, descolada e moderninha.

Mas pequei como sempre tagarelando muito mais do que devo:

– O rapaizinho dos bombons vai me pegar em casa na sexta para passearmos.

– Ah não, mãe! Ah não! Promete que não vai ceder para eu poder sair sem crise de consciência! Promete, mãezinha. – implorou Hideo com cara de desespero.

– Mãe, se joga! – disse Nara.

Enfim, eu não sei exatamente o que ando fazendo em relação aos meus filhos. Não sei se posso chamar isso que eles andam recebendo de mim de educação. Dá a entender, quando comparo por aí com outros lares, que o bagulho aqui tem outro nome. Mas uma coisa é certa: não há calça legue que seja mais sincera que a nossa amizade e muito menos parque de diversão que se equipare com o que construí com eles aqui.

E quanto a caixa de bombons que recebi…  Que tudo seja tão surpreendente quanto ela que me fez virar os zóio a cada mordida.

*-*

Peixes com Ascendente em Escorpião.

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– Nara, conheci uma pessoa. – disse eu super fofa e mãe miga para minha filha adolescente.
– Que dia ele nasceu? – perguntou ela que agora está com essa mania ridícula de astrologia que eu sempre abominei.
– Para que você quer saber isso?
– Para saber como ele é.
– Eu te falo aqui. Ouve.
– Que dia, mãe! Que dia!!!
– Ai caceta. Não importa! Ouve aqui.
– Mãe, que dia. Dia, mãe!!!!
– 20 de Janeiro.
– Que horas?
– 10:40h da noite. – falei na lata com cara de assustada.
– hmmmm. Deixa eu ver aqui. Pera.

Nara pensa.

Começo a ficar tensa.

– Pode ir. Super vai dar certo.
– Valeu.

Ufa.

Nem quero ir para lugar nenhum não, mas como assim eu sei o dia e a hora que ele nasceu e não sei o nome completo do crush?!? Como assim? Em que momento Nara me estragou por completo??? Onde foi que eu errei com essa pisciana com ascendência em escorpião e o diabo da lua em Sagitário, Vênus em Aquário e Marte e Mercúrio em Áries?

Nós, aquarianos, não acreditamos em signos! Socorro!!!

Filhos que não me obedecem: uma dádiva por mim conquistada.

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A imagem do filho obedecendo os pais sempre foi, para mim, um exemplo a não ser seguido. Não sei se faço certo ou errado, mas muitas pessoas têm me perguntado como consegui essa relação de cumplicidade e amizade com meus três filhos que têm idades completamente diferente (hoje, Yuki está com 9 anos, Nara com 17 e Hideo com 22). Pelo fato da pergunta estar se repetindo, resolvi pensar na educação que dei a eles e concluí que eu jamais me importei ou precisei exigir que eles me respeitassem ou obedecessem.

O verbo obedecer significa “ato pelo qual alguém se conforma com ordens recebidas. Autoridade, mando, domínio. Sinônimo de submissão.” Deus me livre… Se o que se busca é respeito, penso eu que isso só é conseguido se o outro lado for respeitado também. Assim como faço com qualquer pessoa, respeito meus filhos e as opiniões deles em tudo. Como mãe, fico atenta às habilidades a serem exploradas, às vontades a serem aprofundadas, ao talento – seja lá para o que for – que pode aparecer a qualquer momento e precisar de um empurrãozinho para emergir.

Não quero que filho nenhum me obedeça. Não me sinto apta a comandar a minha vida quanto mais a dos meus filhos. Se eles tiverem que me obedecer é porque, de alguma forma, assim penso, eles foram podados ou castrados por mim e devem agir de acordo com os meus interesses. Eu passo ser autoridade se tiver que impor a minha vontade e fujo disso já que abomino qualquer tipo de autoritarismo. Filho meu não “tem que” me respeitar e muito menos me obedecer.

Quero que meus filhos tenham luz própria e não sejam sombras de outras pessoas muito menos de mim. Quero que eles sejam eles mesmos, reconheçam as suas vontades e tenham em mim um apoio para conseguir segui-las. As decisões são deles. “Mãe, posso…?” sempre busquei trocar por “Mãe, quero…”. Eu apenas pondero alguma coisa que acho relevante observar, mas as rédeas estão com eles. Quer matar aula, mata. Quer fumar, fuma. Quer fazer teatro, faça. Quer vender arte na praia, venda.

Como disse, não sei se faço certo ou errado, eu simplesmente não consigo agir diferente por aqui. Sei que operando assim tenho, de fato, construído uma relação que muitos têm elogiado. Vale observar que aqui vira e mexe a casa cai. Discussões homéricas são comuns nesse teto, mas nada que em algumas horas tudo volte ao normal. Não é novidade que existe uma quantidade exorbitante de jovens que se drogam. Pelo que afirmam os especialistas da área, muitos desses têm algum problema de relacionamento com os pais que exigem, de uma forma ou outra, obediência. Daí que esses meninos são praticamente forçados a seguir uma determinada profissão certamente pela questão financeira, proibidos de atender aos seus instintos e compelidos a adiar seus sonhos. Seus planos vão ficar a espera de um momento ideal para colocá-los em prática quando saírem da casa dos pais. A solução para esse inferno: as drogas. Isso posto e observado, penso que mesmo que transformemos nossa casa em um ringue de luta quando brigamos – coloquemos assim –  de igual para igual,  filho meu se um dia se drogar não vai ser por minha causa. Disso eu tenho total certeza. Não estou podando a asa de ninguém, pelo contrário, aqui eu só encorajo o voo. Não quero que eles andem no trilho, quero que eles percebam sempre que podem ir para qualquer lugar – como um trem descarrilado –  com o meu apoio.

Então, eu acho que pelo fato de permitir que eles sigam as suas próprias vontades e de criar um ambiente de condições favoráveis e saudáveis para que isso ocorra, acabo conquistando o tal do respeito sem, contudo, ser autoritária e, muito menos, fazer deles seres obedientes. Penso que o dia que  meus filhos se comportarem bem por medo e não por vontade própria eu terei falhado como mãe.

Pela última vez, não sei se estou certa ou errada. Mas uma coisa é fato: não há parque de diversão que se equipare com o que construí com Yuki, Nara e Hideo.

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Balanço Geral

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Hoje a postagem vai ser um pouco diferente. Vou lhes contar uma história que está somente começando:

Nara, minha filha adolescente, que já apareceu em N textos aqui no Minha Vida é um Blog Aberto, canta. E muito. Como um passarinho que vê a primavera. Desde os seis anos toca piano e desde os quinze já canta em público, digo, para os amigos. Eu, de forma despretensiosa, sempre gravei e compartilhei vídeos dela na internet no intuito de dividir felicidade, pois, todos sabemos que felicidade dividida é felicidade multiplicada.

Seguem abaixo os links com alguns vídeos que fizemos da Nara. Eu os organizei em ordem cronológica, então, tecnicamente eles vão melhorando na ordem dos vídeos.

Esse foi o primeiro que fizemos dela. Ela tinha 14 anos e nunca havia tido aula de canto. (Música: Mambembe de Chico Buarque)

https://www.youtube.com/watch?v=fmc3LODAsFw

Essa foi a primeira vez que ela se apresentou em público no auditório do CEFET. Nunca havia tido aula de canto. A galerinha aplaudiu de pé. Daí eu vi que ela emocionava muito a platéia. A partir desse dia, ela tomou gosto por se apresentar em público (Musica: Deixa de Vinícius de Moraes):

https://www.youtube.com/watch?v=sV8R_KI_bcA

E como eu gosto de inventar, mesmo sem ela “saber cantar tecnicamente” eu já criava uns videozinhos com ela aqui de brincadeira (música: Lisbela de Los Hermanos):

https://www.youtube.com/watch?v=cqCAegrWw50

Esse foi outro que fizemos (música: Valsa dos Clowns de Chico Buarque):

https://www.youtube.com/watch?v=kNIdSaxhEcA

Mais um. Neste, dá para ver bem como ela é teatral (música: Violeira de Chico Buarque):

https://www.youtube.com/watch?v=vksMXVtvARw

Esse foi em uma festa. Sempre somos convidados para tocar em festas de amigos e essa foi uma apresentação que emocionou muito a platéia (Música: Escravo da Alegria de Toquinho e Vinícius de Moraes):

https://www.youtube.com/watch?v=sTrCs14kmw8

Esse foi o tecnicamente mais perfeito, já resultado das aulas de canto. Ela estuda com Chiara Santoro no estúdio VOCE (Música: Vida de Chico Buarque):

https://www.youtube.com/watch?v=RowmUf0Yu24

Nada que se equipare em vê-la cantando ao vivo. Por onde ela passa, Nara emociona e muito. Fiz, porém, um vídeo que acabou viralizando na web. Estávamos passeando em Minas em uma fazenda quando percebemos que as vacas estavam nos olhando. Eu, sempre com a câmera em riste, falei para a Nara cantar. No mínimo, teríamos um vídeo engraçado:

Este último vídeo viralizou nas redes sociais, como já disse. Pelo fato da Nara ser vegetariana, primeiramente, ele caiu na graça dos sites que defendem os animais. Logo depois, o Não Salvo fez um péssimo uso do vídeo sem a minha autorização. Compartilhou na página deles Nara cantando para as vacas, mas debochando da “nossa ignorância”. A postagem foi tão grosseira que acabou dando espaço para que pessoas que não nos conhecem proferissem até palavrão contra nós. Xingaram a minha filha, vejam vocês, por causa de um vídeo pleno de beleza e alegria como esse. Mas… acabou que isso deu mais ibope para a gente e o Jornal Extra pediu para mim autorização para compartilhar este último vídeo na página deles. Autorizei. Logo vieram mais xingamentos. Daí, então, munida de uma intuição-porreta, fiz um comentário dizendo que sou a mãe da Nara e que o intuito do vídeo era tão somente divertir e emocionar. Se havia gente incapaz d e perceber e se irritar com isso, paciência.

A postagem deles com o vídeo da Nara cantando para as vacas bombou mais do que reportagem da Dilma e de outros artistas (está lá, só conferir)! Ao perceber tamanho alcance, a rede Record entrou em contato comigo (por causa do comentário no Jornal Extra em que havia me retratado como mãe da Nara) pedindo autorização para fazerem uma matéria com a gente para a Nara e eu contarmos a história do vídeo. Ao final da matéria, levariam a Nara para um outra fazenda para ela cantar para mais vacas e ver se o efeito seria o mesmo. Essa seria a brincadeira/desafio.

Aceitei com uma condição: que deixassem Nara cantar uma música ao vivo no meio da reportagem. Condição aceita, tudo agendado. A equipe viria aqui em casa para fazer a primeira parte da matéria.

Porém, quando o repórter Rael Policarpo aqui chegou, admirou-se com a família de músicos que tenho. O pai, que sempre toca ao lado dela, estava com o violão assim como Hideo, meu filho bacharel em guitarra. Yuki, meu caçula de oito anos no pandeiro e a festa, então, estava feita. Rael mudou o foco da matéria na hora dizendo que o vídeo ia ser da família como um todo.  Belezura.

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Foi chegado o momento que eu havia pedido: Nara cantaria uma música ao vivo. Terminada a música (eu completamente emocionada derramando lágrimas e mais lágrimas sinceras que levantarão, certamente, o ibope do programa), o repórter Rael Policarpo se surpreendeu mais uma vez. Disse que Nara é algo muito maior do que eles estavam imaginando. Ele, então, ligou para a produção relatando o que havia acabado de ver e sentir. A produção, a seguir, me pediu vídeos dela (que foram esses que coloquei no início dessa história para vocês) para eles avaliarem.

Vídeos devidamente assistidos e o convite para que participemos ao vivo diretamente do estúdio surgiu. Neste instante, as vacas já ficaram em segundo plano. O programa vai mostrar a Nara! Muuuita emoção aqui. Ainda assim, para continuar a brincadeira, fomos para uma fazenda em Itaguaí gravar a segunda parte da matéria.

Na van já tivemos várias gravações.

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Yuki, vejam vocês, aproveitando a oportunidade, resolveu fazer uma entrevista com o entrevistador Rael Policarpo​ na van para o Canal dele no YouTube. Os rapazes não acreditaram em tamanha fofurice e gravaram a nossa gravação da reportagem sobre o repórter e, depois, Yuki Câmara entrevistou o câmera Teixeira. 🙂  Se vocês quiserem conferir como ficou tudo isso…

Chegamos, então, na fazenda e a brincadeira continuou:

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Por enquanto é isso, o resto será ao vivo.

SEXTA, dia 7, na Record, de meidia às 14:30h, no Programa Balanço Geral.

O que vai vir depois disso, como diz o mestre Rubem Alves, só o futuro dirá.

Era isso. Queria compartilhar com vocês tamanha experiência e emoção. Afinal, Minha Vida é um Blog Aberto.

Agradecimentos para lá de especiais ao repórter Rael Policarpo por ter aberto essa porta.

Falando de Sexo Em Família

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Fui convidada de novo para participar do programa de televisão Em Família do Canal Saúde/Fiocruz, emissora de televisão do ministério da saúde. Já havia participado de um em que discutíamos sobre privacidade na rede. Eu com o Minha Vida é um Blog Aberto fui lá para mostrar como podemos nos expôr sem fazer mal a nós mesmos. Mas no último programa que foi gravado ontem e que em breve vai ao ar, o tema era “Falando com os Filhos sobre Sexo”. Aceitei o convite, mas logo depois me desesperei. Fala sério eu em rede nacional falando de rami rami! Caraca! Se gaguejo na frente dos meus filhos, da televisão então…

Hideo, meu filho mais velho e guitarrista, pediu para eu aproveitar e dizer em rede nacional que ele é pegador profissional, Nara, minha filha que está saindo da adolescência, falou para eu contar, como eu já lhe expliquei um dia, aquela história que sai o negocim tipo um liquidozim do homem quando ele fica extremamente feliz tipo mega feliz mesmo. Yuki disse que aquele papo de rabo com semente de feijão na ponta desse rabo confunde ele até hoje (falei isso para ele na tentativa de explicar a reprodução humana de forma hiper didática e ele até hoje não entendeu). Enfim, eu não estava certa de que poderia contribuir com algo para esse tipo de programa mas vamu que vamu…

Meus dois filhos mais velhos me acompanharam no dia da gravação. Nara e Hideo sempre estão ao meu lado em momentos tensos como esse. Chegamos lá pontualmente às 9:30hs da manhã e ficamos em uma salinha esperando a hora de ir para o estúdio. Estávamos conversando com o produtor Telêmaco quando fomos interrompidos pela maquiadora me chamando para o camarim. Maquiadora?!? Ui! Que máximo! Levantei-me, e fui dançando ula-ula pelos corredores do canal mega feliz com o momento-estrela-de-roliúde.

Mal voltei para a salinha com o reboco da fuça nos trinques, chegou a outra convidada. Uma senhora para lá de simpática que se apresentou como Maria Cristina, psicóloga, terapeuta de casal e sexóloga.

– Que bom te conhecer! – disse Hideo. – Você é tudo o que minha mãe precisa!

– Mãe! Aproveita! Conversa com ela! – disse Nara mega animada.

Meus filhos acham que eu estou ficando maluca depois que me separei. Não que eu tenha feito nada excêntrico, mas ando, é verdade, sem entender o mundo e sobretudo a mim mesma. De qualquer forma, ser anunciada assim pelos filhos a uma profissional super fofa é meio barra pesada.

– Você trabalha com o quê, Elika?- perguntou-me ela curiosa.

– É. Bem. Acho que devo me apresentar primeiro como escritora. Tenho escrito muito mais do que dar aula e… ai que vergonha eu ao seu lado no programa, olha, eu não sei porquê me chamaram aqui e já te adianto que eu não sei nada sobre sexo, sou praticamente uma virgem e mal conheço esses dois aí. – disse apontando para meus filhos.

Nisso chega o produtor animado dizendo que já que Hideo e Nara estavam ali, poderiam eles também participar do programa. Oi? Eles não vão…

– Jura? Eu quero! – disse Nara.

– Posso dar meu telefone depois que eu falar tudo o que sei fazer? – perguntou Hideo.

Pronto. As chances daquilo virar uma crônica estavam definitivamente aumentando.

Nara foi chamada para se maquiar e eu resolvi acompanhá-la.

– E eu vou ficar aqui sozinho com a sexóloga? – perguntou Hideo se virando desesperado para a Maria Cristina que olhava para ele sorrindo com todos os músculos da face.

– Aproveita e se trata um pouco, meu filho! Cuida dele para mim, sim? – pedi olhando para ela que aparentemente se divertia com tanto doente em sua volta.

Hora da gravação. Na primeira parte do programa decidiram colocar a apresentadora, eu, Nara e Hideo. Somente no segundo bloco chamariam a profissional do assunto para ficar ao meu lado.

– E então, Hideo, é fácil conversar com sua mãe sobre sexo?

– Não. Impossível falar com ela sobre qualquer coisa. Tudo ela faz escândalo e chama todas as minhas namoradas de fedorentas.- respondeu ele super sério com cara de pobre coitado. Eu não estava acreditando…

– Nara, é fácil conversar com a sua mãe sobre sexo já que você é menina?

– Não. E nem posso contar todas as besteiras que ela fala para mim porque se chegar em casa ela me bate.

Mas, gente… quase dei uma bifa na Nara ali mesmo. Como assim? Helooou! Sabe lá o que é ter seus filhos diante das câmeras falando assim de você? Eles, para variar, estavam de gaiatice, mas o público não me conhece e minha imagem acabou ficando muito pior do que imaginei que ficaria se somente eu falasse sobre mim. Sei que os dois seguiram me esculachando e eu ali toda maquiada de cabelos escovados sendo bombardeada de perguntas cabeludas intercalados de comentários altamente travessos de Nara e Hideo.

No segundo bloco, entrou a Maria Cristina que chegou para salvar a minha imagem. Disse ela olhando para a apresentadora Yasmine que o importante é ter uma relação saudável, de intimidade e amizade com os filhos que o resto vem naturalmente, “algo como a relação da Elika com  a Nara e Hideo como pudemos ver”. Ufa. Amém.

E seguiu o programa com várias discussões sobre esse tema cabeludo que tem andando bem careca dado a moda da depilação. E não adianta falar o contrário ou tentar dar receita de como abordá-lo. É tabu sim senhor e vai ser sempre. Expôr a sua sexualidade é ficar literalmente e metaforicamente nu. É tenso. Somos inseguros não importa a idade porque sobre sexo todos somos neófitos. Até mesmo a sexóloga. A diferença dela para nós é que ela sabe menos ainda sobre o assunto porque estudou muito mais e, portanto, fica paradoxalmente bastante segura ao dissertar sobre o tema por entender que nessa esteira todos somos estranhos uns para os outros. Por exemplo, sexo acrobata e brinquedinhos que tanto excitam muita gente por aí a mim pouco ou nada impressionam. Por outro lado, jamais vou entender porque a posição papai e mamãe é classificada como pouco prazerosa, careta, nada criativa e sinônimo de sexo insosso para várias pessoas. E paremos por aqui porque já falei demais!

Acho eu, sinceramente, que educação sexual teremos todos enquanto vivermos porque por mais que leiamos e experimentemos o assunto é inesgotável como qualquer ser humano em si o é. Espero ter deixado claro que eu só sei que nada sei e a única coisa que posso fazer como mãe é conversar com meus filhos menos para lhes explicar algo e muito mais para trocarmos angústias, dúvidas e curiosidades sobre sexo, um jogo onde, penso eu, não há regras.

É isso. Só queria dar uma prévia do que foi essa aventura. Certamente, ao final, eu mais atrapalhei do que ajudei mas, ainda assim, o produtor falou que todos adoraram e que o programa muito em breve vai ao ar. Aguardemos, então, o resultado final.

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Segue o link do programa: http://www.canal.fiocruz.br/video/index.php?v=Falando-de-sexo-com-os-filhos-EMF-0095

O Amor da Nossa Vida

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Estava aqui lendo Proust (fala sério, gente, eu sou mega burguesia cultural insuportável), quando recebo o telefonema da Nara, minha filha adolescente, que acabava de sair de um ensaio.

– Mãe! Encontrei o homem da minha vida!

Nara faz cursos de teatro, dança, canto e bababá bububú lá em Copacabana. Num desses ambientes, apareceu um rapaz bonito, mais experiente que ela na carreira artística e que lhe ajudou em um ensaio lá pelas tantas. Ele explicava, ela ficava olhando com aquela cara de quem olha para um pote de nutella munido com uma colher. Entendeu, Nara?

– Ai, mãe!, eu nem havia prestado atenção!, acredita? Ele me perguntou quanto tempo eu estava estudando canto e o que mais eu fazia! Disse que sou afinada! Mãe! É o homem da minha vida! Tem que ver que fofo ele me ensinando as coisas! Quero me casar com ele, mãe! – Falava ela como se houvesse encontrado um vestido que lhe vestisse muito bem.

Nessas horas, eu tenho que fazer o meu papel de mãe e ponderar algumas coisas mega válidas.

– Ele é neoliberal? – Perguntei.

– Ai, mãe, mora na zona sul, já trabalhou para a um empresa americana… será?

– Ele é vegetariano?

– Não sei, mãe…, pode ser que sim.

– Ele tem cara de quem adotaria uma vira-lata?

– Tem super cara disso, mãe.

– Tem nada! Você não o conhece, minha filha!

Resolvi dar meu cheque-mate na conversa:

-Qual o signo dele?

(Não que isso importa para mim, mas sei que Nara é desse tipo que sabe se um relacionamento vai dar certo ou não olhando a data de nascimento dos namorados.)

– Não sei, mãe! Mãe! Ele NÃO pode ser de libra! Mãe! Se for de libra… eu teria que ver o ascendente… Eu super dou errado com librianos…

– Você não sabe nada desse rapaz e diz que ele é o homem da sua vida? E se for gay?

– Mãe! Não importa! Isso tudo que você falou são detalhes! Não dá pra ficar se pegando nessas pequenas coisas e, depois, agora ele me conheceu, né? Eu estou aqui para mudá-lo! Ele vai super ser desses que adotam vira-lata e se orgulham disso, vamos conhecer Cuba, comer só coisas que não têm cabeça, vamos andar de mãos dadas pelas ruas do Rio, ver filmes com o Johnny Depp e Helena Bonham Carter, ele vai aprender a cozinhar e vamos ser ricos cantando juntos! Não é lindo, mãe?

Nara estava com a Primavera no estômago. Que máximo…

O rapaz apareceu na aula como assistente do professor, resolveu ajudar a Nara e ela assimilou isso tal como aquelas cenas de filme onde o cara aparece no aeroporto no último segundo só pra pedir pra mocinha ficar. Nem acreditei… Incrível como Nara cresceu e está pronta para viver em sociedade. Viver a vida intensamente. Ter um relacionamento sério. Orgulho de ver minha filha iniciando o ciclo: apaixonar-se loucamente, viver o amor, desiludir-se, tomar rivotril fazer terapia engordar emagrecer e querer virar um monge budista desapegado. Se ela der sorte, o ciclo se passará ou muito lentamente, a ponto de não dar tempo de passar para a fase 3, ou terminar rápido demais e deixá-la pronta para iniciá-lo novamente.

Nara me disse que iria desligar e fazer algumas coisas importantes antes de pegar o metrô e depois o trem para Madureira. Mais tarde, a gente veria juntas o que era preciso para a cerimônia. Ok. Beijo, filha. Beijo, mãe!

– Mãe! – Ela, em menos de um minuto – Descobri! Ele pode ser de esquerda! Ele estuda na UFRJ. É de gêmeos! Hétero e compartilhou vídeos de animais! Agora estou indo para casa! Beijo de novo, mãe!

Nara stalkeou o príncipe todinho, gente.

Cá para nós… Ainda que ele tenha votado em Aécio, goste de bife mal passado e tenha um gato persa, eu sei, Nara sabe e todo mundo sabe que o amor entre o futuro-marido-da-Nara-do-momento e ela pode acontecer de verdade, pois, o amor debocha da nossa razão. Referenciais não nos enchem de desejo. Buscamos um parceiro tal como os animais: pelo cheiro. Talvez um pouco mais do que isso: pelo mistério, pela paz que a pessoa nos traz ou pelo tormento que ela nos provoca. Ama-se por aquilo que o beijo nos oferece. Pelo o que sentimos quando tocam a nossa nuca ou quando nos explicam o que não entendemos com um jeito suave, ainda que não prestemos atenção em nenhuma palavra dita.

O amor, cuja fórmula matemática é: eu fofa + você fofo = casamento eterno, não requer consulta prévia, não se dá a stalkeamentos.

O amor da nossa vida gosta de clichês, portanto, o amor da nossa vida não é aquele que nos leva a Paris e sim traz Paris para dentro da gente. Não nos faz querer a chegada da Primavera; o amor da nossa vida é a nossa Primavera.

É isso. Cá estou pesquisando na internet umas casas de campo bem bonitinhas para sugerir a eles como moradia.

O Doce da Terra

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Ontem estava querendo conversar com a Nara, minha filha adolescente, sobre o filme-documentário-foda que vi sobre Sebastião Salgado: Sal da Terra, o nome da película. Eu estava mega emocionada e queria contar tudo, inclusive o final, porque acho que ela não vai ver mesmo e eu achei a história giga interessante e inspiradora. Sebastião Salgado destacou-se menos pelas fotos e mais pelo seu foco nos seus sonhos, fossem eles quais fossem.

Comecei, então, a fazer com que ela visse o filme com os meus olhos. Fui detalhando tudo o que observei, os detalhes das fotos, os filhos, a relação com a esposa, até que chegou o grand finale. Terminei super emocionada vendo uma floresta na minha frente plantada por um ser humano.

Quase chorei de novo…

– Grande merda. – Nara disse. – Grande merda! – repetiu assim que eu terminei.

Tóim Tóim Tóim. Mil martelos de borracha bateram na minha cabeça. Como assim ela não achou tudo fantástico?

– Então esse cara para você – esse cara é o Sebastião Salgado. Sintam o meu drama… – esse cara aí tem valor porque plantou árvores? – Disse ela balançando a cabeça como um sino e com a boca bem mole. E, continuou. –  Primeiro, ele era podre de rico, depois, por que diabos ele não ajudou as crianças da África com o dinheiro dele? Não seria mais nobre?

– Mas, Nara, minha filha, para que temos que dar um julgamento moral? Simplesmente ele fez isso e não aquilo, mas fez isso!

– E, daí, responda, mãe, uma ilustre pobre desconhecida que ajudou dez crianças na África, que se sensibilizou messsssmo com elas e não ficou só tirando fotos bem enquadradas não tem o mesmo valor do que ele para você?

– Por que temos que fazer essa comparação? – Questionei. –  Se esses dois que você citou tivessem em um barco e o barco afundando e você só pudesse salvar um, quem você salvaria?

– Justamente isso que te pergunto, mãe!

– Mas, filha, perceba, para que essa hipótese absurda? O que ganhamos fazendo isso? Para que comparar e não somente admirarmos muito o que um fez e depois o feito do outro? Nós que não somos capazes de fazer nem uma coisa e nem outra… Para que dar um juízo de valor nas atitudes e não somente nos inspirarmos nelas?

-Veja bem, mãe, eu não estou discordando de você. Estou exercitando a minha retórica.

Caraca. Nara estava era pra lá de, digamos, despirocada. A bichinha estava azeda, com o coração peludo e discutindo mega emocionada com uma pessoa com a qual ela estava concordando. Fala sério…

– Logo você, artista!, – continuei – que veio ao mundo para sensibilizar pessoas, por que se fecha para um tipo de arte como a da fotografia?

– Aí é que está. Eu não estou aqui para sensibilizar ninguém. E não vejo valor algum em alguém que fotografa a fome e sai plantando árvores.

Meodeos… Nara estava parecendo a menina do exorcista virando a cabeça.

– Como assim, minha filha? Você vai cantar e representar N tipos de dor. Vai sim emocionar e sensibilizar muita gente para uma determinada causa, o que não te dará nenhuma obrigação de lutar por ela! E você não será pior por não fazer isso! Apenas cante e já faz muito para o mundo! No mais, as coisas que eu escrevo, por exemplo, cumprem o seu destino apenas quando são lidas por alguém. Não importa a quantidade de pessoas. O artista não é feliz sozinho!, isso que estou querendo dizer, filha. O artista precisa de cúmplices da sua arte para ser feliz! Não percebe?

– Eu não preciso de ninguém, nem de você nem nada. Eu quero continuar ensaiando e acabar com essa conversa chata que não leva a nada.

– Mas, Nara…

– Eu já te disse não estou discordando de você! Estou exercitando minha fala! Aprendendo a argumentar! Eu não estou discordando de você! E esse cara é um nada para mim!

E subiu para o quarto correndo.

Jesuis… Socorro.

Corta. Cena 2:  Meia hora depois.

Nara está no banheiro e, de repente, abre a porta e me grita ainda sentada no vaso.

– O que foi, minha filha? – Disse assim que a vi sorrindo com todo o rosto.

– Mãe! Menstruei! Menstruei!

– Que bom,  Nara! Parabéns!

Não. Não era a menarca. Era a milionésima vez que Nara menstruava, mas era o sinal de que ela se livrou a TPM e isso, para nós mulheres, é o tipo de coisa que merece uma festa nível entrega de Oscar, no mínimo.

Nos abraçamos fortemente e jogamos vários pacotinhos de absorventes para o teto do banheiro como quem joga confetes e serpentinas. Foi lindo, gente…

– Passou, mãe! Acabou!!!

Não tocamos mais no assunto de fotos e florestas.

Nara hoje acaba de me ligar mega feliz para dizer que tomou um suco de todas as frutas do mundo, inclusive beterraba!

– Foi caro, mãe… Mas tipo tinha tudo! Uma delícia! E olha que eu não curto uma beterraba, mas mãe… Que delícia! Fiquei mega feliz em tomar o suco, mãe!

Não me chamo Sebastião, não fotografei a fome, não viajei pelo mundo, não plantei florestas. Não fui o Sal da Terra. Mas tenho a impressão de que, de uma forma bem humilde e modesta, hoje consegui registrar uma grande amizade e, também, de que ajudei a semear um colorido jardim.

Enfim, como disse, um filme inspirador.