Sobre um sonho.

O ministro da educação deu uma entrevista para o Estadão. Mas foi uma entrevista daquelas nível Weintraub tamanha foi a destilação de ignorância. 

Neste ano surreal que estamos vivendo em que todas as escolas foram fechadas de uma forma que ninguém aqui jamais viu por conta de uma pandemia que atropelou todos os outros nossos problemas que já não eram pequenos, tudo o que precisávamos era de pessoas responsáveis com inteligência, responsabilidade e humanidade para cuidar das pautas educação e saúde. Lideranças políticas com capacidade de ouvir especialistas seria o que pediria para um gênio da lâmpada, caso existisse.

2020. Entra ministro sai ministro, ficamos com um pastor conservador no comando da pasta da Educação e o que ele disse? 

Trouxe aqui os melhor… quer dizer, os piores momentos dessa entrevista. Acho que vale a pena ler para depois jogar na cara de quem votou nesse irresponsável que está na presidência. Coloquei minhas ponderações no meio da entrevista porque sou dessas de não conseguir ficar calada.

Voilá:

Estadão: Como o MEC vai atuar pra garantir a volta às aulas no País?

Ministro-Pastor: Remanejamos valores para pagamentos de professores e estagiários. São R$ 525 milhões que vamos mandar direto para as escolas públicas. O diretor e sua equipe que vão manejar para comprar insumos, pequenos reparos, tudo para proporcionar que o aluno volte com segurança, incluindo máscaras. Vamos mandar para todas.

Elika: Só na Educação básica temos cerca de 200 mil escolas. Não vou considerar aqui as escolas públicas de nível Ensino Médio. Uma conta rápida: R$ 525.000.000 dividido por 200 mil escolas. Isso dá em torno de R$ 2.500 reais para cada escola. Quase metade das escolas da rede municipal não tem sequer quadra. 

Segundo o Censo Escolar realizado em 2018, nas escolas de Ensino Fundamental, apenas 41,6% contam com rede de esgoto, e 52,3% apenas com fossa. 

As escolas de Ensino Fundamental contam com serviço de abastecimento de água disponibilizado pela rede pública (65,8%), mas há escolas abastecidas por poço artesiano (17,4%); cacimba, poço ou cisterna (11,9%) ou então diretamente por rios, córregos ou outros canais (6,2%). Em 10% delas, não há água, energia ou esgoto. Isso sem contar que há salas de aula sem janelas, sem giz e escolas sem professor e muitas sem livros!

Em plena pandemia, o ministro acha que esse valor será suficiente para que cada escola prepare um ambiente seguro para a volta às aulas? Jura? A estrutura que temos nas escolas não é capaz de fazer uso dos espaços coletivos de forma segura, ministro. Acorda! 

Estadão: Não cabe ao MEC se posicionar sobre a volta às aulas?

Pastor: Não temos o poder de determinar. Por mim, voltava na semana passada, uma vez que já superamos alguns itens, saímos da crista da onda e temos de voltar. Mas essa volta deverá ser de acordo com os critérios de biossegurança.

Elika: Sair “da crista da onda” mantendo uma média de mil mortos por dia não é sinal de que devemos voltar com nenhuma atividade presencial e sim continuar mantendo o isolamento. 

Para além disso, a infraestrutura das escolas públicas deste país não permite que se cumpram os protocolos de segurança mínimos para que se reduza o risco de contágio da covid-19.

Com isso, pastor, a volta às aulas representa sérios riscos à saúde da população em geral. A experiência em Manaus no início de agosto mostrou que, se a volta às aulas em um estado de menor risco já resultou em alta de contaminações, ainda estamos longe do patamar seguro para retornar às escolas em todo o país. Quase um terço dos professores testaram positivo em Manaus, ministro. Informe-se antes de sair falando bobagem, por favor.

Estadão: A pandemia acentuou a desigualdade educacional com alunos que não têm acesso a internet…

Elika: O ministro pastor interrompe a pergunta, acredita? Ele não deixa o repórter fala. Ministro da Educação. E D U C A Ç Ã O.  Interrompe e fala:

Pastor: Esse problema só foi evidenciado pela pandemia, não foi causado pela pandemia. Mas hoje, se você entrar numa escola, mesmo na pública, é um número muito pequeno que não tem o seu celular. É o Estado e o município que têm de cuidar disso aí. Nós não temos recurso para atender. Esse não é um problema do MEC, é um problema do Brasil. Não tem como, vai fazer o quê? É a iniciativa de cada um, de cada escola. Não foi um problema criado por nós. A sociedade brasileira é desigual e não é agora que a gente, por meio do MEC, que vamos conseguir deixar todos iguais.

Eu de novo:  “Vai fazer o quê?” do pastor é o “E daí?” do Bolsonaro.  Haja…

Um político é eleito para resolver problemas, de preferência, que não foram criados por ele. Concordo que não será SOMENTE pela Educação que conseguiremos reduzir as desigualdades no nosso país. A Educação de qualidade é necessária mas não suficiente. A diminuição da desigualdade é urgente. Para tanto, é necessário, dentre outras coisas, que sejam adotadas medidas contra a discriminação de raça no mercado de trabalho e uma reforma tributária que adote um programa que aumente a progressividade dos impostos. Fica a dica, pastor.

Estadão: O papel do MEC é trabalhar para diminuir essas desigualdades…

Pastor: O MEC, em termos, né? Essa é uma responsabilidade de Estados e municípios, que poderiam verificar e ter as iniciativas para tentar minimizar esse tipo de problema. Alguns já fizeram. Algumas universidades federais deram até tablet.

Elika: É triste testemunhar um ministro da educação se esquivando da responsabilidade que lhe cabe e proferindo asneiras como essa de que dando um tablet a solução para o problema da desigualdade vem junto. 

Tem coisas que tenho até preguiça de comentar. 

Estadão: Há casos que há apenas um celular em casa com acesso à internet e quando os pais saem para trabalhar os filhos ficam sem assistir aula.

Pastor: Esses são problemas sociais, que eu não tenho como responder. Vão afetar a escola, mas isso aí já é para um outro departamento, de assistência. Não tenho como resolver isso.

Elika: Ele não tem como resolver nada? Então para quê esse homem está ali se tem má vontade até para pensar?! A função do MEC, ministro, é coordenar esforços. A educação acontece no Estado e município, isso é fato. Mas o ministério é quem dá as coordenadas. O Ministério da Educação é fundamental para dar um norte ainda mais em um ano pandêmico. Onde está a preocupação e o compromisso que cabem a uma liderança pública, pastor?

Estadão: Quais os planos para melhorar os resultados da educação infantil e básica?

Pastor: Quero dar o foco sobre a vida dos professores. Hoje ser um professor é ser quase que uma declaração que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa. Está na hora de parar de ter como protagonista somente o aluno, a infraestrutura, a comida, o assistencialismo, e a gente olhar com carinho maior para os professores.

Eu indignada: Um professor pode e deve ganhar um salário que lhe permita respirar, que lhe tire a necessidade de trabalhar em mais de duas escolas para ter um rendimento mínimo necessário, que lhe dê tempo para preparar suas aulas e cuidar de sua saúde. Mas nenhum professor por maior que seja o seu salário vai conseguir ensinar uma criança com fome e muitas das nossas crianças se alimentam nas escolas. 

Fora isso, sem infraestrutura não há turma de 30 alunos que consiga manter um rendimento bom e uma concentração adequada. O ministro está pedindo para dar comida apenas para a mãe e que essa mãe fique feliz mesmo vendo seus filhos não recebendo o carinho e a atenção que precisam e que merecem. Não é assim que se melhora nenhuma Educação, ministro. 

Estadão: Já deu uma diretriz para revisão da Base Nacional Comum Curricular?

Pastor: Esse é um ponto que precisamos atacar de maneira urgente. O prazo é 2023, mas não é feito da noite para o dia. Na educação básica, o Enem tem sido um balizador dos conteúdos que a gente requer, porque senão começa a falar lá de ideologia, sabe tudo sobre sexo, como colocar uma camisinha, tirar uma camisinha, sabe tudo. Fica gastando tempo com assuntos que são laterais. As crianças têm de aprender outras coisas.

Elika: Começou o surto coletivo, estava demorando… Essa é uma das infinitas passagens que mostram que o ministro da educação não tem a menor noção do que se passa nas salas de aula. Esse governo de incompetentes sempre usa alguma coisa ideológica, sem evidência nenhuma para esconder falhas em execuções de políticas públicas. 

Réchi tégui cansada.

Estadão: A escola é um ambiente com prática de bullying, o que leva, por exemplo, a depressão e outros casos mais graves. Não é importante fazer essa discussão dentro da escola?

Pastor: Por esse viés, é claro que é importante mostrar que há tolerância, mas normalizar isso, e achar que está tudo certo, é uma questão de opinião. Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo [Elika: oi?!] tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato e caminhar por aí. São questões de valores e princípios.

Elika: Oi? Como?! A atribuição da homossexualidade de jovens a “famílias desajustadas” é homofobia, ministro! Espero que receba um processo por esse crime. 

Estadão: A gestão do seu antecessor, Abraham Weintraub, foi marcada por questões ideológicas. Qual seu posicionamento sobre o educador Paulo Freire?

Pastor: Tive a pachorra de ler o texto mais famoso dele, que é a “Pedagogia do Oprimido”. Eu desafio um professor e um acadêmico que venha me explicar onde ele quer chegar com as metáforas, com os valores. 

Elika: Desafio aceito. Estou à disposição para explicar as ideias de Paulo Freire e por que desejamos uma educação que seja libertadora e não castradora. Queremos educar para que o ser humano transforme a sociedade para melhor e não para ser explorado por um mercado. Nada contra o conhecimento técnico, mas Educação não se restringe a ele. É algo muito maior do que isso, ministro.

Tenho pouco tempo já que estou entrando em campanha, mas sou objetiva e bem didática. Boto fé que você vai entender.

Enfim, trouxe aqui algumas partes desse show de horrores. A entrevista completa está publicada no Estadão. 

Meu sonho é estar em um lugar em que me permita olhar no olho dessa gente e dizer tudo isso e mais um tanto de coisa que trago aqui dentro do peito, da minha cabeça e da minha história.

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