Hideo, meu filho de vinte e poucos anos, chegou em casa um dia desta semana querendo conversar comigo. Papo reto. Mãe, é o seguinte. Quero fazer dança de salão pra pegar mulher igual o Leonardo. Tô precisando dar uma investida nisso. Ué. Faz. Respondi. Mas, mãe, o problema é que eu não sei dançar e queria que você fosse comigo para eu não ficar isolado. Daí você seria meu par.
Bom, de dança o que eu sei dá até para fazer apresentação na rua com os meus amigos, os postes. Quando me deixo levar pela música, posso ir para um posto e passarei desapercebida como um daqueles bonecos que soltam ar pelos braços. Eu, definitivamente, ia mais atrapalhar Hideo do que ajudá-lo.
Vai, meu filho. Deve estar assim de senhorinha cheia de ginga e doida por um garotão como você. Me deixa quieta no meu canto. Disse eu honestamente. Mas justamente disso que quero me livrar, mãe! Senhorinha por senhorinha, eu prefiro você.
Avaliei o desespero. O caso era sério. Hideo estava de verdade determinado a conquistar novinhas com passinhos marcados de bolero e samba.
– Formô. É nóis.- Falei eu com pena do meu filhote.
Quinta, na hora combinada, lá fomos nós. Quando estávamos saindo, Nara, minha filhota fofa adolescente, quis saber o que iríamos fazer. Assim que contamos, ela bateu palmas rapidinho, disse que legal!, e se juntou ao comboio.
Ao chegar ao salão onde era a aula, uma surpresa. Ao invés de senhorinhas animadas, uns doze senhorzinhos sorridentes e cheirosééésimos. Três mulheres somente contando com a professora. Bastou uma olhada rápida para perceber que a conta não fechava. Mas vá lá. Vamos ver qual é dessa aula.
Assim que foi dada a liberdade de escolhermos o par, eu e a vaca intrusa da Nara voamos no Hideo. Planei por último, perdi. O senhorzinho de blusa coral cheirando a Azarro me puxou.
Sete oito nove e um dois três quatro esquerda e um dois três quatro direita. Lá estava eu, tronco amador, rodopiando no salão mega concentrada contando até quatro infinitas vezes.
Troca o par. Sete oito nove e um dois três quatro vai pra frente e um dois três quatro vai pra trás.
Nara estava muito pior do que eu. Parecia uma múmia. Quando nossos olhos se cruzaram, ela veio em minha direção, puxou-me para um cantim para fazer uma observação: mãe, o senhor ali falou que ele me comanda, mãe! Que é o homem que conduz a mulher. Mãe! Que lugar mais machista é esse que estamos! Eu quero conduzir aquele senhor-rexona! Shhhh, Nara. Era só o que me faltava! Quer fazer a marcha das vadias em plena aula de dança? Vai pro balé dançar sozinha ou aceita o cabresto! Mas, mãe! E aquela história toda de dominação… Sete oito nove e um dois três quatro. Caguei para Nara, agarrei o Absinto que estava me esperando.
Depois de todo mundo ter contado até quatro com pares diferentes, eu finalmente fui dançar com Hideo. Daí, dá licença, me soltei. Senti-me nos Embalos de Sábado à Noite. Não aguentava mais contar até quatro! Vai, Elika, arrebenta! Ouvi do além. Mãe! Para, mãe! Mããããe! Está todo mundo olhando!
Sosseguei. Foco no objetivo principal! Lembrou o futuro Don Juan. Ok. Parei. Ensinei, então, calmamente, meu filho encalhado a me conduzir mostrando como o Quasar e o Água de Cheiro haviam feito comigo.
Enfim, acho que vamos além dessa aula experimental viu. Voltamos eufóricos e assim que Nelson chegou do trabalho, mostramos alegres os passos que aprendemos. Bora. Sete oito nove e um dois três… Cada um em um tempo diferente. Uma troço de doido mesmo. Nelson entendeu que se tem uma coisa que a gente precisa é aula de dança. Deu-nos força para continuar. Apoio moral é o que há.
Assim foi o nosso fim de tarde desta quinta e, até que Hideo consiga conquistar uma menina dançando, será assim, pelo visto, nos próximos meses. Quiçá anos. Não sei qual será o final disso, mas pelo início já valeu.
Arrasou, morro de rir com suas crônicas, fico doida para ler a próxima aventura da família, Beijoca nos meus primos ♥
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Fala pra ele fazer aulas de Zouk. Nos bailes de zouk é quase impossível se manter encalhado. 😀
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Ah esqueci de registrar que seus textos são fabulosos!
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Não canso de dizer (e como não sou criativa em escrever!!!kk) Adoro suas crônicas!! Ainda mais quando coincidem com o meu cotidiano. Comecei a fazer aula de dança de salão e me identifiquei com meus amigos postes…kkk. Três meses de aula e ainda continuo uma múmia…mas não vou desistir! Abraços. Obrigada!
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Vc é retada! Quem me dera escrever assim sobre meu cotidiano. Parabéns.
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